A unidade portuguesa é responsável por 19% da produção global: 4 milhões de euros num universo anual de 22 milhões. A quase totalidade das peças fabricadas, destinam-se aos mercados do continente americano.
A Grundéns Portugal encerra a particularidade de acrescentar valor à economia nacional quase a 100%, pois utiliza matéria-prima integralmente portuguesa e uma ferramenta de software digital para gestão e produção integrada, totalmente desenvolvida no país e com parâmetros muito diversificados. Aliás, nesta unidade produzem-se todas as etiquetas e rótulos e faz-se o controlo de qualidade das peças produzidas em outras fábricas que transitam de Oriente para Ocidente e vice-versa.
A marca é confirmada como a de maior qualidade no vestuário profissional que tem de ser totalmente estanque à água quer tenham costuras vulcanizadas ou alinhavadas, quer tenham molas ou fecho-éclair, bolsos interiores ou exteriores. Ponto de honra em todas as peças para vestuário destinado à pesca profissional é a resistência praticamente inviolável à perfuração para evitar acidentes, como por exemplo com as artes de anzóis muito utilizada na pesca dos moluscos no Pacífico Sul.
Ainda que seja uma marca sueca, a produção global faz-se em unidades industriais especializadas, certificadas e controladas pela própria marca, nos Estados Unidos, Vietnam e China, além da fábrica portuguesa
A Grundéns distingue o vestuário por diferentes áreas com logotipos destintos: para pesca comercial o logo GRUNDENS, pesca desportiva onde utiliza a simbologia de um esqueleto de peixe; e de lazer, onde utiliza um barco como distintivo.
É marca isenta de ftalatos químicos difíceis de serem biodegradáveis. É extensa a lista de itens no âmbito da tecnologia de ponta como a singularidade da produção de uma mochila totalmente á prova de água (pode mesmo ser mergulhada) e um modelo de calção têxtil repelente de água que possui um bolso forrado a micro partículas de cerâmica para acondicionar ferramentas e evitar perfurações.
A marca sueca – hoje propriedade de uma Holding – simboliza o que de melhor existe na indústria portuguesa.
Como somos capazes de fabricar produtos fantásticos. Extraordinária é a baixa percentagem de reclamações e rejeições generalizada…
“Corresponde a 0,01% das peças produzidas. Orgulhamo-nos disso”, afirma sem hesitação, Joaquim Santos, o CEO da Grundéns em Portugal.
O dirigente trabalha na empresa há 24 anos e foi o responsável pelo seu crescimento, materializado nas instalações adquiridas em 2013 e que significaram um investimento superior a 2,5 milhões de euros.
Revista Festa – Ouvimos-lhe o desabafo que são estas as empresas que fazem verdadeiramente falta à economia portuguesa…
Joaquim Santos – Esta empresa acrescenta valor à economia do País quase a 100%, por incluir no seu processo industrial matéria-prima e tecnologia estritamente nacionais. E por exportar 99% do que produz.
Por outro lado, a partir deste ano, é marca isenta de ftalatos - compostos químicos derivados do ácido ftálico - que serve a impermeabilização e para tornar os pvc’s mais maleáveis, em particular o DEHP (ftalato de di-2-etilhexila) que é um dos mais difíceis de serem biodegradado.
Nesta empresa também passámos a utilizar apenas molas para aperto das roupas sem níquel e anti salinas, da marca YKK.
Festa – Poderemos dizer que a Grundéns exibe os pergaminhos da indústria têxtil portuguesa, apesar de nos confrontarmos com vestuário técnico e bastante específico. E não é uma meia verdade?
JS – Estamos entre os melhores fabricantes, senão o melhor no mundo desta indústria. Fixemo-nos no nível da percentagem de reclamações que é de 0,01%, na especialização cada vez maior dos nossos profissionais e no prestígio que é sermos responsáveis pelo controlo de qualidade das peças que produzimos nesta unidade, tal como um desenvolvimento de produtos atendendo sempre ao melhor conforto e performance dos mesmos quando utilizados.
Grundéns produz em Portugal desde 1972.
Inicialmente a empresa chamava-se Pluvia, pertencendo ao grupo sueco. Após a mudança de instalações mudou de nome para Grundens Portugal.
Na unidade de Odivelas – com 3850 m2 cobertos num terreno de 14 mil m2 - trabalham 70 funcionários, maioritariamente femininos (ocupam 65 postos de trabalho).
O custo de operação é medido ao minuto.
Festa – Em Portugal, somos confrontados com uma contradição: Estamos entre os competentes quando se fala de qualidade de produção, mas distantes dos mais eficazes e competitivos. É verdade ou não? Qual é o seu ponto de vista sobre a indústria portuguesa?
JS – A indústria portuguesa tem que ser mais apoiada, vista como um elemento para criação de mais emprego e competitividade, pois a indústria têxtil é hoje um dos grandes motores da economia pelo que exporta e factura.
Contudo, ainda existem empresas excluídas pela sua localização geográfica e outras condicionantes, não se olhando para cada empresa como uma oportunidade de criação de riqueza e emprego local a nível nacional.
Excesso de burocracia impede investimento
Festa – Para os investidores quais são os prós e contras em investir em Portugal?
JS – Os investidores estrangeiros não percebem nem aceitam que haja grande burocracia para fazer qualquer investimento e espanação tal como a longa demora para a aceitação e execução dos programas de incentivos que provocam atrasos e, muitas vezes, a perca de oportunidade para os investimentos se realizarem ou até acabarem por ser preteridos e deslocados para outros países.
Festa – Existem diferenças nas práticas globais entre empresas estritamente nacionais ou as multinacionais?
JS – Existe com certeza, pois, no meu entender, as multinacionais têm de ser muito rigorosas nos prazos estipulados para fechos de balanços, budgets, orçamentos previsionais antecipados, planos de marketing e outros compromissos, o que não se passa na maioria das unidades estritamente nacionais, tal como ter uma noção mais abrangente de todas as questões legais, alfandegas e coordenação das várias unidades entre si, paradigmas que não se colocam às empresas nacionais com uma única unidade de produção.
Festa – Joaquim Santos revela entusiasmo particular pela empresa.
Considera-a singular?
É apenas paixão profissional ou emoção pela indústria e coisas dos oceanos?
JS – Penso ser um pouco de tudo mas com mais incidência numa paixão particular e profissional poder construir e fazer crescer algo que nos é estimado. Traz-nos uma satisfação de realização única.
Festa – Para o gestor Joaquim Santos o que falta fazer à Grundéns em Portugal?
JS – Crescer ainda mais. Temos um próximo objectivo pelo qual temos lutado arduamente: conseguirmos que na Grundéns Portugal seja construído um centro logístico que servirá à distribuição dos nossos produtos no continente europeu. Se isto acontecer será um grande passo na nossa sustentabilidade enquanto empresa e unidade no grupo.
Festa – Na fábrica portuguesa já não existe uma liderança estrangeira. Que significado se pode dar a esse facto?
JS – É uma vantagem. As lideranças estrangeiras estão muitas vezes desfasadas da nossa realidade, tal como a existência da barreira linguística que provoca um certo afastamento dos colaboradores e não vivem a empresa como alguém que nasceu e cresceu nela. Contudo, prova também que nem tudo o que é estrangeiro é melhor.
Também temos bons profissionais, altamente competentes, capazes de competir com outras nacionalidades e de trabalhar, ou mesmo dirigir multinacionais.
Este ano, a marca apostou tornar-se mais conhecida entre os portugueses comuns e na vertente dos equipamentos para a pesca desportiva, patrocinando João Pardal, vice-campeão mundial de pesca em barco.
Festa – Na indústria a este nível, em contraciclo com a maioria das empresas de serviços e do sector empresarial do estado, é-se escrutinado todos os dias. Joaquim Santos sente essa pressão?
É mais positivo ou negativo no dia-a-dia?
JS – Somos postos à prova todos os dias, não há contemplações ou desculpas para não cumprirmos os objetivos traçados. Os orçamentos são para ser escrupulosamente executados e quando isso não sucede há lugar à justificação e à observância de planos de correcção. Não são admitidas derrapagens, nem orçamentos rectificativos haja o que houver.
É positivo o rigor e o grau de exigência extremamente elevado, mas é negativo no sentido em que vivemos num nível de stress muito grande, o que está longe de ser um benefício para o quotidiano, em muitas das vezes.
Festa – Patrocinar um vice-campeão do mundo de pesca desportiva será, porventura, um desafio com valor acrescentado para a Grundéns. Mas é certo que a maioria desconhece que o detentor do galardão é português, chama-se João Pardal.
E os pescadores nacionais conhecem a marca e estas proezas? E qual é a razão para maior desconhecimento do português comum da marca e dos seus produtos tecnológicos no âmbito do vestuário de lazer?
JS - Essencialmente porque a Grudéns nunca investiu muito no mercado nacional. Em Portugal, era essencialmente produtora, mas já decidimos investir mais na divulgação da marca e dos seus produtos no País e em outros europeus.
A Grundéns sempre foi marca de topo, com produtos caros que nem sempre estavam ao alcance de todos, infelizmente. E digo infelizmente porque todos os profissionais deveriam ter acesso aos melhores equipamentos para se protegerem, numa
actividade cheia de adversidades.
Ao invés, no nosso mercado introduziram-se produtos de baixa qualidade a preços baixos com o intuito de subsistirem. Hoje, são os mais consumidos, ainda que na realidade se tornem mais caros pela menor duração e qualidade no desempenho.
E o campeão João Pardal é um dos nossos embaixadores… Temos vários por países: em Portugal temos o João na pesca desportiva, mas nos Estados Unidos o nosso emissário é o famoso Wild Bill, durante anos capitão de um barco de pesca comercial no Bering Sea. Na Grudéns, os embaixadores encontram-se todos ligados à indústria da pesca ou aos oceanos, pois foi aí que nascemos e onde está a nossa autenticidade.