Festa - Rui, como é que um Engenheiro Topógrafo se dedica a esta faceta da restauração, que parece não ter nada a ver. Ainda há topografia na vida do Rui Terras?
Rui Terras - Claro que sim, muita e cada vez mais, mas só de inverno, porque de verão tenho que estar aqui a cem por cento, dedicado aos negócios da praia. A topografia é o meu “anti-stress” e, aliás, ainda na semana passada estive a fazer um trabalho aqui mesmo, em Torres Vedras. Tenho uns amigos arquitetos, e não só, que confiam nos meus trabalhos e recorrem regularmente aos mesmos, mesmo sabendo as minhas limitações no verão.
Festa - Como se passa de uma área para a outra?
Rui Terras - Muito simples, deveu-se à família e amigos.
Estava a trabalhar no estrangeiro, em grandes obras e grandes projetos. Em determinada altura queriam que fosse para o Qatar, isto depois de já ter estado em Cabo Verde, Senegal, Guiné Equatorial, muito na área das estradas, e cansei-me de vir só quatro vezes a Portugal, uma semana de cada vez. Passados três anos tudo perde a graça inicial e sentimo-nos cansados de estar longe de casa.
Um pouco devido a essas influências fiquei com o Boca Roxa, em Torres Vedras, depois o Casa da Música, no Túnel, até que, meio por acaso peguei num espaço que sempre frequentei em mais novo, o Postigo, em Santa Cruz, que continuo a ter, como Boca Santa.
Festa - Esse espaço, para além da casa, bastante agradável, tem uma paisagem fantástica…
Rui Terras - Sim, tem uma vista privilegiada. Estamos mesmo cá em cima da arriba com o mar como horizonte, o Penedo do Guincho ou até as Berlengas como pano de fundo para se desfrutar.
Festa - Mas pelo meio já ‘pegaste’ em outros espaços aqui, em Santa Cruz?
Rui Terras - Na altura, o Frangote, que batizei como Bate Boca, ao lado do hotel, que estava a passar por algumas dificuldades pois a noite em Santa Cruz mudou muito e já não havia lugar para aquela coisa dos ‘shots’ ao início da noite, com os jovens em gritarias na rua e a criar ao espaço problemas com os hóspedes do hotel, vendo a sua hora de fecho passar para a meia noite. Fiquei com esse espaço, fiz uma reestruturação e transformei-o numa petisqueira. Mas o espaço é muito pequeno, pelo que resolvi abrir um espaço maior, ainda antes da pandemia, aqui por cima da Praia do Max - o Max Garden, uma cafetaria e snack-bar, abandonando o Frangote (Bate Boca) entretanto, pois surge a pandemia e não havia o mínimo de possibilidade de o manter rentável. Aliás, foi também por essa altura e devido às contingências de separação entre as mesas e as pessoas, que fiquei com a loja aqui do lado, onde nos encontramos, que posteriormente transformei em restaurante.
Festa - É bom viver em Santa Cruz?
Rui Terras - Para mim, e até pelo que disse no início, a qualidade de vida é muito importante e, neste momento, quem vive em Santa Cruz é quem tem seguramente melhor qualidade de vida no concelho de Torres Vedras. Tem é que ter vida para isso, porque também há pessoas que saem de manhã e chegam à noite, só aqui vem dormir e acabam por não usufruir nada com o que Santa Cruz tem para oferecer. Agora quem cá trabalha, quem tem tempo para desfrutar, tem imensa qualidade de vida, porque Santa Cruz tem tudo o que necessitam e é maravilhosa.
Festa - Essa paixão por Santa Cruz acaba por levar o Rui Terras a ‘meter-se’ nas coisas da comunidade, recordo-me, por exemplo de uma associação que passa o tempo a promover e fazer coisas pela zona balnear, é assim?
Rui Terras - É verdade, criámos um movimento, o Santa Cruz Viva, que começámos com empresários de cinco áreas diferentes, mas acabou por evoluir para a população e ainda bem, porque aqui, em Santa Cruz, é muito complicado os empresários estarem todos alinhados no mesmo sentido, em especial organizando coisas que possam ajudar a combater a sazonalidade, pois grande parte dos lojistas, em especial na época baixa, são eles próprios que passam dez ou doze horas nos seus estabelecimentos e sentem muita dificuldade em dispensar tempo para outras atividades, mesmo que os favoreçam.
Festa - A que se dedica o Movimento Santa Cruz Viva?
Rui Terras - Dentro do que é possível, procuramos fazer acontecer algo em Santa Cruz fora da época balnear e nesse aspeto estamos com alguma vitalidade, pelo menos em relação aquilo a que nos propusemos de início.
Temos consciência de que a Câmara Municipal e as Juntas investem muito durante a época balnear, para dar algo às pessoas que estão por cá durante essa altura, seja música, teatro, desporto e outros eventos que são bastante importantes, só que, se queremos ter mais gente durante todo o ano as coisas não podem acontecer só no verão, têm que ser mais espaçadas. Por isso é que nos metemos a organizar eventos ‘fora de época’, como o Arraial da Sardinha de São João, em junho, em parceria com a Sealand, o Santa Clássicos, com uma grande ajuda do Helder, na Páscoa, que resultou muito bem e conseguiu encher os largos centrais com automóveis clássicos lindíssimos e muitas pessoas para os admirar, depois, já vamos para o terceiro ano que organizamos a chegada do Pai Natal em avioneta, numa parceria com o Aeródromo e com o Aero-Clube, que ‘chama’ imensas crianças a Santa Cruz, com os pais a traze-las, claro. Para tudo isto temos contado com a ajuda de muita gente, muitas empresas e associações, sem as quais nada disto seria possível, assim como do município e da freguesia que, dentro do possível, tem colaborado imenso também.
No fundo, sabemos que a Junta e a Câmara não podem fazer tudo, por isso é que com este Movimento procuramos juntar empresas, pessoas e vontades para tentar fazer acontecer.
Festa - Como tem estado Santa Cruz?
Rui Terras - Santa Cruz tem estado linda. Mesmo hoje, véspera aguardada de uma tempestade, o mar tem estado lindo, com ondas espetaculares e uma vista fantástica daqui até às Berlengas, lá ao fundo. Enfim, Santa Cruz é linda todos os dias….