Revista Festa – Como surge o Mário Reis ligado à ACIRO?
Mário Reis – Entro para a ACIRO pela mão do saudoso Hernani Miranda, que há cerca de vinte e um anos me convidou para fazer parte da direção da Associação.
Aceitei com muito gosto e fui-me mantendo, tentando fazer coisas em prol de todos nós, empresários.
Festa – Em pouco tempo torna-se presidente?
M. Reis – É verdade. Fui diretor durante três anos, mais seis como vice-presidente. Quando o Hernani sai fazem-me o convite e não foi fácil, porque não é fácil ter a minha empresa, a família, e ao mesmo tempo liderar uma Associação com o “peso” da ACIRO, mas acabei por aceitar e agarrar com todo o gosto a missão, sendo presidente há doze anos.
Festa – Como é para um empresário com o tempo muito ocupado, como seria de esperar, assumir o papel de liderança numa associação do género?
M. Reis – Exige muito, é verdade. Não é fácil.
É mesmo muito difícil, só mesmo com muita dedicação, muito empenho e muito gosto é que se consegue efetivamente estar à frente de uma associação com a dimensão que a ACIRO já tem. Abrangemos os concelhos de Cadaval, Sobral M Agraço, Lourinhã e Torres Vedras, e todos os dias há desafios diferentes que temos que enfrentar.
Festa – Para além disso ainda fazem parte de outras organizações ou entidades. Uma delas recém criada, ao que sei?
M. Reis – É verdade, há uma entidade nova em que acabámos de tomar posse, a FAERO - Federação das Associações Empresariais da Região Oeste, uma união de associações de grande dimensão, que abrange todo o tecido empresarial da região Oeste, onde nos incluimos.
Festa – Qual a importância da criação de uma federação deste tipo e qual o papel da ACIRO na mesma?
M. Reis – A importância da Federação é podermos falar a uma só voz e tornar o Oeste mais forte.
São onze concelhos e um grande leque de associações de sector, que ganha outro peso pela sua própria dimensão. Representa, atualmente, perto de quinze mil empresários desta região.
Depois, é uma entidade com uma abrangência enorme, que une quase todos os sectores do tecido empresarial da região, o que lhe dá, só por isso, um peso enorme.
Quanto à ACIRO, desde o primeiro dia que fazemos parte da comissão que instalou a FAERO, e também desde o primeiro dia que fazemos parte da direção da mesma.
Festa – A ACIRO tem muitos associados?
M. Reis – Claro que não temos tantos quantos gostaríamos, tantos quantos necessitaríamos, mas ainda assim temos bastantes, próximo das mil e duzentas empresas (ou empresários) associadas. Claro que seria bom termos mais, pois quantos mais associados tivermos mais e melhores serviços será possível prestar.
Festa – De vez em quando escutam elogios e algumas críticas também?
M. Reis – Como é natural. Temos que escutar ambas com muita atenção e tomá-las em consideração.
Uma coisa é certa, eu e os meus colegas estamos lá por “amor à camisola” e ninguém nos poderá apontar um dedo que seja no sentido de não nos termos empenhado, de não termos trabalhado, ou de termos tirado algum eventual benefício do facto de lá estarmos. Estamos num espírito de missão e fazemos o que nos é humanamente posível. Se nos elogiam ficamos felizes, se nos criticam tentamos melhorar, claro.
Uma coisa é certa. Fazemos tudo o que sabemos e podemos, e penso que a maioria das pessoas reconhece isso.
Festa – É fácil ser associado da ACIRO?
M. Reis – Claro que sim.
Basta preencher uma proposta, pagar uma jóia de valor irrelevante e uma pequena quota mensal.
Festa – Faz sentido ser sócio de uma associação do género?
M. Reis – É evidente que faz todo o sentido.
Ser associado faz a entidade ter um peso completamente diferente quando defende os empresários, o que é muito vantajoso.
Depois, há uma série de benefícios de que os nossos associados usufruem, no caso particular.
Festa – Quais são essas vantagens?
M. Reis – Para além de negociação de contratos coletivos de trabalho para alguns setores, os nossos associados podem ter consultoria económica, consultoria jurídica, assistência técnica às empresas, consultoria fiscal, apoio a questões administrativas, pagamentos de contribuições, disponibilização de livros de reclamação, processamento de salários, ou até usufruir de protocolos com a banca, com entidades de saúde, etc, que negociamos e temos ao seu dispor.
Uma panóplia de serviços e vantagens muito interessante ao dispor dos nossos associados.
Festa – Em “off”, falou em sete euros de quota mensal. Isso consegue manter uma associação como a ACIRO, com tudo o que oferece aos seus associados, a funcionar?
M. Reis – Só esse valor não dá para manter a ACIRO, mas ajuda bastante.
Temos outras fontes de receita, como as salas de formação, o auditório, ou as ações de formação financiadas que fazemos em parceria com o CECOA.
Festa – Mas também fazem alguns eventos?
M. Reis – Sim, em especial na restauração fazemos a “Rota dos Petiscos”, que já se realiza há uns anos com muito suceso.
É um daqueles casos em que ao apoiarmos a restauração acaba-mos também a apoiar o comércio, pois vem gente à região atrás dos petiscos e acaba por comprar coisas por cá.
Festa – Houve anos em que a ACIRO estava empenhadíssima nos eventos e nas ilumina-ções de Natal. Verificou-se alguma perca de força nestes últimos anos?
M. Reis – Primeiro acho que é uma questão pertinente e interessante, sim.
As nossas opções não tem nada de político pelo meio, porque na associação não fazemos política, até porque também temos diretores dos mais diversos quadran-tes, que se respeitam e, aqui, tratam de questões empresariais.
Agora, a nossa “política” tem sido manter um exelente relacionamento com todos os municípios, governo central e não só.
É por aí que essas ações têm que passar sempre, em especial por parcerias com os municípios, e sabe que a situação dos mesmos, e do país, não permitiu grandes gastos nos últimos anos.
Com muita pena nossa, e de todos os empresários da região, houve coisas que não foi possível fazer, até porque a ACIRO também não tem um orçamento tão grande assim.
Agora sempre fomos reunindo, negociando e pressionando, e pensamos que as coisas estão a melhorar, com algumas coisas a ser feitas já este ano que vão dar alguma visibilidade, notoriedade e interesse à cidade, às vilas e à região. E isso é bom, porque as pessoas vão aos centros das mesmas ver as animações, ou iluminações, e acabam sempre por comprar qualquer coisa, por contribuir para o nosso comércio tradicional.
Festa – Em que mais ações estão empenhados?
M. Reis – Voltando ao nosso setor da restauração, que achamos ser um ótimo pretexto para trazer pessoas à região, temos outro evento: “O Porco é Rei” que também tem sido um verdadeiro sucesso. Aliás, com a própria Câmara de Torres Vedras e com a Federação de Suinicultores penso que será possível alargar até esta ação e tornar a mesma muito mais abrangente e interessante ainda.
Festa – O turismo tem estado a ser a mola real do país. Na região, os vossos associados também estão a sentir melhorias relacionadas com esse setor?
M. Reis – Algumas, mas nada que se compare com regiões como Lisboa ou Porto. Ainda assim é bom, claro, e tem contribuido com uma pequena ajuda para o muito que os nossos empresários necessitam de recuperar pelos anos de crise que passaram.
Festa – Coloquei-lhe a questão anterior por saber que a ACIRO não tem um representante no seu órgão executivo da região mais turística da região. Acha uma questão pertinente?
M. Reis – Evidentemente que sim. Até porque está nas nossas intenções, numa próxima eleição, procurar sensibilizar um associado dessa zona a colaborar connosco, dentro da associação. Faz todo o sentido, até para que se possam fazer ações específicas para a nossa linha de costa com o apoio, ou por iniciativa, da ACIRO.
Festa – Qual a situação da ACIRO. É uma situação estável?
M. Reis – Sim, sim. Temos umas contas muito equilibradas e uma situação económica sólida.
Para além disso temos um edifício-sede que é porventura um dos melhores a nível da região e mesmo do país, completamente pago, e não temos dívidas nem ao fisco nem à segurança social, ou mesmo a empresas.
Não temos muito dinheiro, é uma verdade, mas temos uma situação muito equilibrada e estável.
Gostariamos de fazer ainda mais coisas para os nossos associados, mas não se pode ter tudo.
Preferimos fazer aquilo que nos é possível mas ao mesmo tempo ter um cuidado enorme com os dinheiros da associação, que não são nossos, só nos estão confiados pelos nossos associados.
Também aí não nos podem apontar nada em desfavor, pois tratamos o pouco dinheiro existente com muito cuidado e profissionalismo.
Festa – Mas mesmo assim, através de negociação, conseguem formas de financiamento para os vossos associados?
M. Reis – É verdade. Temos vários projetos aprovados, nomeadamente o “Comércio Investe” que está a decorrer, num valor de quatrocentos mil euros, a que concorremos, conseguimos essa aprovação, e a que já aderiram uma dúzia de empresas, para modernização do comércio no seu interior, exterior e modernização tecnológica, faltando só receber ao momento as últimas tranches do IAPMEI.
Mas os programas de formação que temos aprovados são, também eles, importantíssimos. São programas vocacionados para empresários, gestores e também colaboradores, que vão permitir facultar mais ferramentas para otimizar a gestão das empresas.
Para além destes programas temos ainda um para desempregados que queiram formar a sua própria empresa.
Um leque variado e muito importanto, como se percebe.
Festa – Este programa para desempregados que querem abrir a sua própria empresa resulta?
M. Reis – Tem sido um sucesso. A ACIRO para além do programa de formação dá todo o acompa-nhamento na abertura das empresas.
Neste momento já são trinta e sete as novas empresas que abriram ao abrigo desse programa, com a criação de setenta a oitenta postos de trabalho.
Festa – É caro fazer uma ação destas?
M. Reis – Tem os seus custos, mas como é co-financiado pela UE os participantes acabam por não pagar nada. É formação gratuita.
Este é outro dos benefícios inerentes a ser associado.
Festa – Diz-se que quem está à frente das empresas tem pouca formação. É verdade?
M. Reis – Já foi mais assim.
Hoje há jovens talentosos e habilitados à frente das empresas e mesmo os menos novos também foram adquirindo conhecimento que lhes permite estar num patamar muito interessante.
Atualmente, as empresas têm que ser competitivas, têm que ter boa produtividade, bem dirigidas, por gente qualificada, como é evidente.
Festa – Como é que o Mário Reis vê o futuro do nosso tecido empresarial?
M. Reis – Com muito otimismo.
Há uns anos, Portugal era um país de gente “desenrascada” mas hoje os nossos empresários são pessoas com formação e habilitações, perfeitamente capazes para desenvolver as suas empresas dentro do mundo competi-tivo em que se enquadram.
Pelos empresários não vai ser o problema...
Festa – O ensino superior em Torres Vedras também tem sido importante para isso?
M. Reis – É de uma importância extraordinária para a região. Não posso falar ainda do IPL, que é mais recente, mas o ISPO, por exemplo, com quem pontualmente temos algumas parcerias, tem uma importância enorme, com ótimo ensino e cursos, tem permitido a muita gente habilitar-se e levar para as empresas onde trabalham os conhecimentos aí adquiridos.
Festa – Quantos anos leva a ACIRO nesta defesa dos empresários da região?
M. Reis – Somos uma associação com cem anos.
Vamos comemorar o centésimo aniversário no próximo dia 07 de setembro de 2018.
Festa – Isso quer dizer que 2018 é o ano do centenário. Vai haver comemorações?
M. Reis – Vai ser um ano de festa, sim. Não podemos fazer coisas muito grandes mas temos que comemorar com alguma dignidade, pois achamos que a região, os empresários e a associação merecem.
É um marco na sua história da associação e da própria região Oeste.
Festa – Quando se vai “levantar o véu” sobre o programa de comemorações?
M. Reis – Tem que ser gradualmente. Em princípio por volta de março deve começar o calendário de eventos, com uma pequena festa/gala co-financiada, que nos foi proposta, em especial com estas pessoas, e entidades, de que falei e que participaram no “Comércio Investe”, nas diversas formações e assim.
É como que uma rampa de lançamento para outros eventos que culminarão, mais para setembro, com as comemorações do centenário em si.
Festa – Como pergunta final, peço-lhe que me resuma porque se deve ser associado da ACIRO e qual a relevância disso mesmo?
M. Reis – No fundo deve ser-se associado por tudo o que lhe referi: prestamos serviços importantes aos empresários, temos uma disponibilidade total, uma equipa de exelência na parte administrativa, consultoria económica e jurídica, temos um atendimento personalizado de grande qualidade e com mais sócios ficamos mais fortes, podemos fazer ainda mais coisas.
É bom que os empresários apareçam, que sejam associados, que tragam contributos, que deixem críticas construtivas, pois embora sejamos gente séria que veste a camisola, precisamos sempre de ideias novas ou diferentes que nos apontem novos caminhos também.
Uma coisa é certa. Quanto mais unidos estivermos, quantos mais formos, maior será o nosso peso.
Felizmente que ultimamente tem entrado “muita gente” mas “cabem” muitos mais.
Qualquer empresário será sempre muito bem recebido!