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TOY foi nosso convidado e falou-nos de muitos temas interessantes incluindo o seu novo single  “FaltOToy”

TOY foi nosso convidado e falou-nos de muitos temas interessantes incluindo o seu novo single “FaltOToy”

Falar do “Toy” não é difícil, pois todos o conhecem e reconhecem como um dos principais símbolos da música popular portuguesa. Mais difícil é enumerar os sucessos deste artista, que sempre quis estar ligado à música, que emigrou para trabalhar em outra área muito novo e que foi, também muito novo, nesse país de acolhimento que formou a primeira banda e gravou o primeiro disco.
Depois de regressar a Portugal os sucessos sucedem-se a este multifacetado artista, primeiro com a produção para colegas também reconhecidos no topo do panorama musical nacional e pouco tempo depois em nome próprio.
Aproveitámos o seu novo sucesso, o single “Faltotoy”, que nasce de um improviso e é ‘apadrinhado’ por uma legião de seguidores quase de imediato, e conversámos com o artista, numa troca de palavras que julgamos ter-se tornado muito interessante.

Revista Festa - “Faltotoy” é um sucesso e já se tornou viral. É um tema com uma história engraçada “por detrás”?
Toy - Verdade. No programa “Taskmaster” da RTP há uma altura em que anunciam a prova do “A”, a prova do “B” e de repente… falta o Toy!
Esta fonética… falta o Toy, falta o Toy… tem repercussão, depois de uma, duas três, quatro vezes, até que um dia estávamos lá no programa e sugerem-me “eh pá devias fazer uma música com o ‘falta o Toy’”. Alinhei na brincadeira e de forma bastante rápida, fiz uma “coisa” com cerca de minuto e meio a falar dos concorrentes e dos apresentadores, com um refrão bastante ‘sui generis’. Levei-lhes e eles passaram no último programa.
Entretanto o Nuno Markl gostou e diz-me “tens que por isso no Spotify” porque a “malta” quer. A “malta” gostou e quer.
Colocámos lá o tema e foi um sucesso imediato…

Revista Festa - “FaltoToy” é um tema que saiu só como “Single” ou pensa inclui-lo no seu próximo trabalho?
Toy - Vai ser só um Single. Isto agora, como já não fazemos os cd’s torna-se mais complicado percebermos o que é um álbum. Antigamente havia aquele gosto de fazer a capa, de fazer aquele trabalho todo, agora, com a questão digital fazemos o Single, colocamos no mercado e as pessoas aderem ou não aderem. Neste caso aderiram.
Não me parece que de imediato saia um álbum, a não ser que daqui por uns tempos possamos fazer um “best-off” dos últimos temas e se coloque lá também o “FaltoToy”, mas isso só à editora compete. Para além disso, a minha ideia é continuar e gravar mais dois ou três temas ainda este ano, se conseguir arranjar tempo que o permita. São temas que tenho na minha mente mas que ainda não consegui gravar.

Revista Festa - O não ter tempo costuma ser uma coisa boa. Isso quer dizer que o Toy tem uma agenda bastante preenchida. Verdade?
Toy - É verdade sim. Temos solicitações para participar em variadíssimas festas que existem por este Portugal fora, desde Melgaço a Quarteira, já para não falar nas ilhas, onde vou estar no Pico, em São Miguel, na Terceira e Santa Maria, nos Açores, na Madeira também, mas sim, tenho uma agenda de atuações bastante composta, felizmente… para poder pagar os impostos ao estado, pois um artista... só em IRS vai-se 45% daquilo que se ganha com muito suor e dedicação. É um absurdo.

Revista Festa - Saímos há pouco de um período bastante complicado para todos, e muito em especial para quem está ligado às artes, com confinamentos e espetáculos cancelados.
O Toy, como vinha de ter lançado alguns temas de grande sucesso parece ter passado um pouco ao lado, pois continuámos a vê-lo a trabalhar.
Foi assim?
Toy - Eu não passei ao lado, apenas trabalho muito e quando as coisas se complicaram, há um ditado antigo que ilustra o que tive que fazer: “quem não tem cão caça com gato”.
Ao longo da minha vida, com a construção social que tenho e a forma de relativizar os conhecimentos que vou adquirindo ao longo do tempo, pela minha forma de estar na vida e que permite ter pessoas que gostam de estar comigo e de conviver comigo, isso torna-se muito positivo quando temos necessidade de trabalhar e nos “cortam as pernas”, como foi o caso da pandemia, quando nos avisam que os cerca de cem concertos marcados não podiam ser feitos.
Não estou a falar só de mim, pois somos muita gente, somos pelo menos vinte e duas pessoas “na estrada”. É fácil multiplicar vinte e dois por cem e perceber o que isso significou em termos de trabalho, de ganhos, em termos de sustento de muitas famílias que deles dependiam e isso tinha que ser colmatado de qualquer forma. Como conheço muitas pessoas no mundo do espetáculo, da televisão, dou-me bem com muita gente e tento ser sempre o máximo possível prestável para as pessoas quando precisam de mim e quando perguntam “não te importas de ir aqui, eu vou” “não te importas de fazer isto, eu faço”, “quando há uma questão de solidariedade eu estou” e portanto tudo isso serviu quando chegou a uma altura da minha vida em que fui eu quem precisou das pessoas. Nessa altura liguei, em especial para as televisões e disse-lhes: “meus amigos, tantas vezes fui de borla aos vossos programas, porque é que agora que precisamos não arranjam uma verba, pelo menos para pagar aos músicos, as despesas do combustível, etc, etc”.
Depois disse isto publicamente, para que todos os outros meus colegas também pudessem usufruir dessas condições e deste benefício.

Revista Festa - Houve sensibilidade e compreensão?
Toy - Felizmente que sim. As televisões tiveram essa coerência e sensibilidade, pois quando ao longo da vida passas o tempo a dar o teu tempo e os teus serviços, havendo essa coerência, quando precisas, essas entidades também são sensíveis ao que estás a passar. Os programas de televisão voltaram a ser pagos, como antigamente, embora não sejam grandes fortunas mas pelo menos contribuem para os músicos sair de casa, pagar combustível, pagar portagens e assim.
Para além disso tive a felicidade de ter algumas solicitações, como por exemplo da parte da SIC, mais propriamente da SP Produções, em que me pediram os temas para a novela “Amor, Amor” e sempre foram quarenta letras e quarenta músicas. Portanto estive ocupadíssimo, consegui colocar alguns músicos meus a trabalhar nesse projeto, tocando e gravando, embora não o tenha conseguido com todos pelo menos consegui dar trabalho a alguns, outros consegui dar trabalhos de outra forma.
Depois fui convidado pelo “I Love Portugal” para ser capitão de equipa durante seis programas, depois ainda fui convidado pela TVI para fazer comentários a um “reality show”, e portanto, todos estes pequenos “biscates” que fui fazendo em detrimento dos concertos que não fiz, não deram para ganhar muito dinheiro mas sempre serviram para ir colmatando as necessidades do dia-a-dia.
O primeiro ano foi um ano muito complicado. O segundo tornou-se um pouco menos complicado com estas aberturas. Entretanto também apareceu a série “Pôr do Sol”, em que fui convidado para diretor musical e entrar em alguns episódios, apareceu o “Task Master”, em que participei duas temporadas, e tudo isso contribuiu para ultrapassar os tempos de pandemia com algum “oxigénio financeiro”, digamos assim…

Revista Festa - Temas como o “Toda a Noite”, “Estupidamente Apaixonado” , “És Tão Sensual”, “Chama o António”, “Vou Chorar Outra Vez”, “A Cerveja no Congelador”, “Rosa Negra”, “Sou Português” entre tantos outros, são temas que continuam a dar-lhe aquela notoriedade de topo que conseguiu atingir com o seu valor e o seu trabalho. São temas que já estão no passado ou as pessoas continuam a pedir-lhe para os cantar em todos os espetáculos que tem e onde vai?
Toy - Claro que sim, que tenho que cantar sempre esses temas.
Recordo com saudade que tive o prazer de conhecer e privar com a Amália Rodrigues e a Amália não podia fazer um espetáculo sem cantar “Uma Casa Portuguesa”, “São Caracóis São Caracolitos”, “Estranha Forma de Vida”… com as devidas distâncias, há temas que se tornam icónicos na nossa carreira e a que não podemos fugir, as pessoas estão à espera de os escutar, de poder disfrutar deles. Os meus concertos são compostos pelo que há de mais recente numa mescla com sucessos antigos que o público aguarda sempre com alguma expectativa.

Revista Festa - Como é um concerto do Toy?
Toy - É ir ver… não consigo definir.
Costumo dizer que os meus concertos são setenta e cinco por cento de alinhamento e vinte e cinco por cento de improviso não programado. Há sempre muita coisa que surge no momento, embora tenha que existir programação, porque há os ensaios com a banda, com “timmings” certos, mas a “loucura saudável” também tem que fazer parte, pois é isso que torna os espetáculos diferentes e mais apetecíveis para o público, que pode ir ver atuações em locais diferentes e nunca sentir que “já viu aquele espetáculo”.

Revista Festa - Ou seja, com a capacidade de improviso reconhecida ao Toy é-lhe fácil acompanhar a sensibilidade do público que tem à frente do palco?
Toy - Sim, para mim é fácil. Há coisas que faço nos meus concertos que acho muito originais, muito “à Toy”, procurando sempre documentar-me sobre o local onde estou, os costumes das terras, das pessoas, dos organizadores, ou até dos principais patrocinadores. Depois, com a informação que consigo adquirir, é normal pegar numa viola a meio do espetáculo e oferecer um tema onde coloco tudo isso. As pessoas acho que gostam, pois são diretamente referenciadas e esse imprevisto torna-se sempre agradável.
Depois, claro que por vezes tenho que improvisar, até onde é possível, no próprio alinhamento, pois as pessoas, o público é diferente em todo o lado onde vou.

Revista Festa - Temos concertos do Toy marcados para a região Oeste?
Toy - Sim, tenho concertos previstos para essa região, não consigo é dizer agora quais são as datas e locais, mas não é difícil saber pois à medida que os espetáculos se aproximam vão sendo publicitados.
O Oeste está no meu roteiro, aliás, tenho muito a agradecer, em especial a Torres Vedras e ao Carnaval de Torres, porque uma das grandes razões do sucesso conseguido com o tema “Toda A Noite” começa no Carnaval de 2018, onde foi passado repetidamente e também contribuiu para ficar no ouvido das pessoas que se deslocaram a Torres Vedras nesses dias e sei que foram algumas centenas de milhar.
Nunca me vou esquecer de agradecer a essa região a importância que teve no, talvez, maior sucesso da minha carreira. Depois é também uma região onde sempre fui muito bem acolhido e acarinhado, pelo que lhe devo um sentido reconhecimento, pois é recíproco, também adoro a região Oeste de Portugal.

Revista Festa - Toy, uma palavra final...
Toy - Mais importante do que conversámos é que a sociedade possa melhorar, que haja uma maior atenção em relação à cultura, porque a cultura é o alimento da identidade de um povo. Um povo que não tenha cultura não tem identidade.
Não se deve depreciar a cultura popular, porque esta é a génese de toda a cultura. É a partir da raiz que as árvores crescem e passam a dar frutos. Se, por exemplo, a cultura erudita faz falta não devemos esquecer que ela própria nasceu porque existia  cultura popular. Por tudo isso, deixo um desafio aos nossos governantes, sejam eles de que partido forem, para nunca esquecer as nossas raízes e a nossa cultura, pois só assim conseguiremos manter viva a nossa identidade, como país e como povo.

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