Revista Festa - Tem um interregno na vida autárquica de oito anos por alguma razão em especial?
Luis Pedro Silva - O interregno deu-se sobretudo devido a algum cansaço pessoal.
Para além do facto de fazer parte da Junta dar muito trabalho e desgaste, eu tinha um problema acrescido, que era o facto de trabalhar com o público numa grande empresa, aqui, na Silveira, e como o Mário Miranda na altura estava na Junta a meio tempo, devido à sua vida profissional, era normal as pessoas dirigirem-se ao meu trabalho para colocar problemas da Junta.
Isso levou a um desgaste enorme a nível pessoal e a nível profissional já estava igualmente a levantar-me alguns problemas.
Uma coisa e a outra levaram a que decidisse afastar-me um pouco durante algum tempo.
Festa - O que leva o Luís Pedro Silva a concorrer à presidência da Junta em 2013?
L. P. S. - A primeira razão deveu-se à limitação de mandatos. O Mário Miranda não podia voltar a concorrer e era necessário alterar o candidato a indicar.
A segunda razão prendia-se com o facto de ser um profundo conhecedor dos problemas da freguesia e das suas necessidades.
Por outro lado, esses oito anos em que estive fora do executivo deram-me uma enorme experiência em termos associativos, tendo estado à frente do Cerca F Clube, que estava paralisado quando cheguei e consegui-se fazer muitas coisas boas, como repor o campo de futebol, colocar um relvado sintético, fazer uma parceria com a Academia do Sporting CP que fez com que se movimentasse imensos miúdos, para além de se dar alguma alma a um clube que estava a necessitar de “mexer”.
Essa experiência permitiu-me ganhar imenso traquejo como dirigente, criar laços muito estreitos com a própria Câmara Municipal, com quem tive sempre um otimo relacionamento com todos os setores, e talvez por isso, nessa altura, as pessoas aqui me tivessem incentivado e daesafiado a concorrer.
“...um profundo conhecedor dos problemas da freguesia e das suas necessidades”
Festa - E o Luís Pedro gosta de fazer coisas...
L. P. S. - Como é evidente, pois se assim não fosse também nunca me tinha candidatado.
Uma coisa e a outra levaram-me a sentir que poderia ser útil e vir a fazer mais qualquer coisa pela freguesia onde nasci e resido, decidindo avançar.
Festa - E a candidatura, correu bem?
L. P. S. - Felizmente que sim.
Para além de ter conseguido juntar uma equipa muito boa, com o Sérgio Calado, o Francisco Miranda, a Joana Agostinho e o Carlos Félix, as pessoas também aderiram e deram-nos o seu voto de confiança.
Festa - Qual a população da freguesia da Silveira?
L. P. S. - Temos cerca de nove mil recenseados e próximo dos doze mil habitantes na freguesia.
“hoje temos cinco médicos e quatro enfermeiros na USF”
Festa - Estamos no último ano de mandato. Qual tem sido o vosso principal trabalho ao longo do mesmo?
L. P. S. - O maior objetivo que nos impusémos solucionar teve a ver com a área da saúde. Era um enorme problema que se vinha colocando já há muito tempo e que não permitia à população da freguesia ter uma assistência e uma resposta eficaz para as suas necessidades, pois havia um médico para doze mil utentes, que no verão chegam próximo dos cinquanta mil. Era um autêntico caos.
Apesar de ser um processo que já se arrastava há uma série de anos, conseguimos ser a mola real que permitiu avançar com a criação da USF - Unidade de Saúde Familiar na sede da freguesia.
Ao início tivémos alguma dificuldade em chegar às entidades da saúde, mas também aí tivémos a sorte de ter sido colocado um médico daqui, da Cerca, o Dr David Rodrigues, filho de um empresário desta região, que, embora jovem, tinha imensos conhecimentos ao nível da ARS. Houve uma enorme empatia e vontade de solucionar o problema por parte de ambos ao ponto de nos ter colocado a situação nos termos de lhe arranjarmos as condições físicas necessárias à implementação que ele próprio faria os esforços e desenvolveria o processo para conseguir a referida USF.
Devido às precárias condições com que a população se debatia não olhámos para trás, nem pensámos duas vezes, e embora não conseguissemos desde logo o apoio do município, avançámos. Investimos mais de sessenta mil euros nas instalações e hoje temos cinco médicos, quatro enfermeiros e todo o apoio necessário na Unidade, o que permite responder condignamente às necessidades da população, que até de assistência domiciliária existe atualmente.
Festa - Mas, não tiveram ajuda do município?
L. P. S. - Embora tenhamos avançado sozinhos, a Câmara posteriormente veio a apoiar-nos, claro, mas a verba conseguida acabou por ser cedida do Governo central, negociada ainda com o anterior executivo mas disponibilizada já pelo atual.
Acabou tudo por correr muito bem. Foi feito um acordo com a ARS em que fomos reembolsados da verba gasta agora e também da que o executivo do Mário Miranda já havia despendido nas melhorias feitas no Centro de Saúde.
Festa - Esse dinheiro vem dar muito jeito à Junta para desenvolver atividades em prol da população?
L. P. S. - Sim, claro. Se a Junta vivesse só com os cerca de setenta e três mil euros anuais que recebe diretamente do estado (FEF) era muito complicado.
Na Junta da Silveira temos um orçamento anual a rondar os novecentos mil euros, mas isso consegue-se com algumas verbas próprias que conseguimos e com a delegação de competências estabelecida com a Câmara Municipal, e a esse nível temos a sorte de a Câmara de Torres, a meu ver, trabalhar muito bem com as freguesias.
“temos muito orgulho em todas as povoações da nossa freguesia, e um carinho muito especial por Santa Cruz”
Festa - Uma das localidades da freguesia é Santa Cruz. Uma povoação balnear recentemente remodelada, que embora pertença a duas freguesias, é associada normalmente à Silveira. Ter Santa Cruz na freguesia é positivo?
L. P. S. - Claro que temos muito orgulho em todas as povoações da nossa freguesia, e um carinho muito especial por Santa Cruz, que tem um nome que nos dá uma visibilidade enorme. Nesse sentido, acho que a freguesia sai a ganhar.
Por outro lado, pela dimensão e caraterísticas de Santa Cruz, também temos que ter consciência de que uma fatia enorme do nosso orçamento é alocado diretamente à povoação. Mas temos orgulho na “nossa parte” desta nossa zona balnear, até porque é com alguma satis-fação que regularmente escutamos as pessoas a referirem-se a ela como muito bonita, limpa, arrumada e agradável.
Festa - Há muito que se fala em Santa Cruz passar a ser freguesia, ela própria. Faz sentido?
L. P. S. - Neste momento penso que não faz grande sentido, pois Santa Cruz é muito sazonal.
Penso que faria muito mais sentido pensar em transpor-se a povoação para uma das freguesias atuais, isso sim, julgo que seria vantajoso.
Festa - Também é a Junta que organiza os eventos e animação em Santa Cruz?
L. P. S. - Não. Essas organizações, englobadas especialmente na Onda de Verão, são iniciativas da Câmara. A única coisa com que a junta contribui é com a sua opinião.
Mas, a meu ver, são eventos muito ricos e diversificados que contribuem para valorizar toda a região.
Como referi, o nosso papel enquanto Junta, tem mais a ver com limpeza, manutenção e criação de condições para que as pessoas tenham uma vida, ou umas férias, agradáveis em Santa Cruz.
Festa - A Silveira é uma freguesia muito diversificada, em termos de àrea?
L. P. S. - Sim, temos uma freguesia muito dividida em especial entre dois setores importantíssimos: o turistico e o rural, ou agrícola.
Não podemos esquecer que para além de possuirmos alguns quilómetros de lindas e bem tratadas praias, também temos na freguesia uma das maiores áreas hortofrutícolas da região e até do país. Inclusíve na produção de plantas, dedicadas ao sector, temos quatro ou cinco grandes viveiros implantados na freguesia, o que nos coloca ao nível das áreas mais importantes do sector a nível nacional.
Festa - É fácil gerir essa diversidade?
L. P. S. - Como é evidente é otimo ter essa diversidade, mas claro que causa algumas dificuldades, pois os problemas do litoral são diferentes dos que encontramos na zona mais interior, com algumas dificuldades em acessos, escoamentos de águas, saneamento, ou até algum tipo de poluição com os materiais residuais das culturas, mas que temos gradualmente vindo a solucionar, diretamente, com sensibilização, ou através de parcerias.
Nas linhas de água, por exemplo, fizemos um investimento enorme logo no primeiro ano de mandato, mas penso que foi uma iniciativa importante, já que se conseguiu solucionar graves problemas que existiam na freguesia.
Festa - Milhares de pessoas trabalham ou circulam pela freguesia diariamente. Acha que a Silveira está bem servida de acessos. É fácil chegar, circular ou sair daqui?
L. P. S. - Bem, já estivemos em pior situação, mas não posso deixar de concordar com muita gente que diz que deveria ser mais fácil chegar até aqui, ou até Santa Cruz, por exemplo.
Aquela via de acesso de que se fala há muitos anos que permitiria um acesso de Torres Vedras a Santa Cruz por fora das localidades, e que acabaria por servir toda esta região, penso que faz cada vez mais sentido, pois as estradas atuais estão com uma carga de tráfego próxima dos limites, muito em especial na época alta, onde as vias estão mais que congestionadas e não conseguem responder às necessidades de quem aqui vem passar férias, muito menos de quem tem que desenvolver a sua atividade.
Festa - Sabe-se já que o Luís Pedro Silva vai recandidatar-se a um novo mandato à frente dos destinos da Junta. Esse poderá ser um objetivo, ou prioridade, para o novo mandato, caso seja eleito?
L. P. S. - Gostaria imenso de dizer que sim, mas a Junta tem poderes limitados e essa não é uma área onde possamos atuar.
O que podemos, e devemos fazer, é criar alguma pressão sobre o município para este eventualmente pressionar o governo nesse sentido, pois essa será sempre uma iniciativa que terá que partir do poder central. Mas, sim, essa via é um anseio e uma necessidade antiga da freguesia e da região.
Festa - Falando em desporto, e sendo o presidente Luís um homem do desporto, e o Carlos Félix também, porque não tem a freguesia um “grande clube” que dispute as principais provas e tenha grande visibilidade?
L. P. S. - Isso tem uma justificação lógica e uma razão de ser.
A Silveira é uma freguesia composta por muitas localidades, que vivem um enorme bairrismo saudável, que as leva a ter cada uma a sua própria coletividade - e veja que temos pelo menos sete coletividades ativas e a fazer coisas muito interessantes na freguesia e mais duas ou três que estão a trabalhar a meio termo - mas que não permite um aglutinar de esforços em torno de um clube só, que pudesse representar a freguesia. Mas também acho que isso não seria o melhor. É mais saudável a situação que se vive neste momento.
Ainda assim, temos boas representações no futebol, com o Casalinhense e o Cerca, muito importantes em especial na área da formação, no ciclismo, temos um trabalho muito interessante desenvolvido pela Associação da Silveira, que vem conseguindo alguma notoriedade com o seu trabalho, numa área onde temos, por exemplo, cinco vencedores de Voltas a Portugal oriundos ou residentes na freguesia - Joaquim Agostinho, João Roque, Joaquim Gomes, Francisco Miranda e Jorge Silva - e muitos outros ciclistas com algum nome no panorama nacional, como os irmãos Marta e tantos outros. O atletismo é outra das modalidades que a Associação da Silveira tem abraçado como prioridade. A petanca, por exemplo, é um desporto muito querido e apreciado pela coletividade do Casal Cochim, mas temos outras coletividades ativas e que muito fazem pelos jovens da freguesia atualmente.
Para além disso, a própria Junta ainda se envolve em diversas organizações, como a Futemania Oeste, que se realiza no fim de Junho, destinada aos escalões de formação e que envolve três freguesias - Silveira, São Pedro e A-dos-Cunhados - seis campos de relvado sintético e imensos jovens, disputado por cerca de sessenta equipas, algumas estrangeiras, em futebol de onze e de sete.
Festa - Mas isso também é bom para as atividades económicas da freguesia?
L. P. S. - Sim, claro. Tudo quanto é hotel, residencial ou restaurante na região fica esgotado nesses dias, pois é um evento que trás muita gente até nós, para além de permitir aos nossos jovens competir a outro nível.
Festa - Já falámos na recandidatura da equipa de Luís Pedro Silva nas próximas eleições autárquicas. O que vos motiva. Ainda há muita coisa por fazer na freguesia?
L. P. S. - Claro que sim. Nunca está tudo feito nem nunca se conseguirá fazer tudo aquilo que se desejaria.
O trabalho do executivo de uma Junta é um desafio constante, onde todos os dias se deparam realidades diferentes que, com muito empenhamento e dedicação, vamos tentando solucionar. Do apoio social, ao apoio psicológico, das estruturas aos problemas mais diversos, numa Junta temos um tempo bem preenchido e valioso na tentativa de se conseguir contribuir para melhorar a vida das populações jovens, adultas ou séniores.
“a construção de um Centro Escolar, da nova sede da Junta e de um passeio que ligue a freguesia de ponta a ponta, são só alguns dos anseios”
Festa - Mas existe algum grande projeto em mente?
L. P. S. - Como é evidente, temos vários projetos que gostariamos de conseguir realizar.
O maior deles, e caso as pessoas continuem a depositar em nós a sua confiança, prende-se com a educação.
Depois de se ter conseguido encontrar solução para a saúde, na educação somos das freguesias onde se nota um maior ‘deficit’ em termos de condições para as nossas crianças. Temos quatro escolas e a única que se pode considerar dispor de condições razoáveis, para alunos e professores, é a de Santa Cruz.
Boavista, Silveira e Casalinhos, são três escolas construídas nos anos cinquenta, a funcionar com condições mínimas, sem refeitórios condignos, sem espaços de recreio ou lazer para os alunos e onde anualmente investimos verbas enormes em manutenção, que nos preocupam imenso e vão ser a nossa prioridade para o novo mandato, caso sejamos eleitos, claro.
Tudo passa pela criação de um Centro Escolar, construído de raiz num terreno que já adquirimos, junto ao Moinho dos Caixeiros, onde se possam criar condições adequadas ao ensino das nossas crianças, substituindo as tais três escolas mais deficitárias neste momento.
Festa - Esse é então o vosso grande projeto de mandato?
L. P. S. - Não é o nosso único projeto, mas é o que consideramos mais urgente.
Temos também um outro, que se prende com a construção do novo edifício-sede da Junta, para o qual já temos o projeto entregue na Câmara Municipal.
Quando fizemos o acordo com a ARS ficou acordado que este espaço, onde a Junta está atualmente, seria para uso da USF - Unidade de Saúde, pelo que temos que o libertar tão breve quanto possível. O Ministério da Saúde deu-nos alguma tolerância, em termos de tempo, mas temos a obrigação de o deixar disponível.
Como temos este espaço aqui ao lado, vamos utilizá-lo parcialmente para criar condições à Junta e aos serviços que esta presta, continuando o restante espaço dedicado a estacionamento, como já atualmente acontece. Mas não ficamos por aqui...
Festa - Existem mais?
L. P. S. - Bem, sabemos que não se pode ter tudo de uma vez só, mas há outras prioridades que, caso sejamos eleitos, vão igualmente avançar.
O Moinho dos Caixeiros é uma delas. Não propriamente o moinho, claro, que é um atrativo ponto turístico da freguesia, mas as instalações envolventes, que iremos redimensionar, afastando-as um pouco do próprio moinho, de forma a dar-lhe ainda mais realce, e permitindo melhores condições a quem o visita.
Mas há outras áreas em que estamos apostados, como a criação de uma ligação pedonal entre o pinhal dos Casalinhos de Alfaiata e Santa Cruz, com passeios ao longo de toda a estrada de forma contínua, que permitam ir de uma ponta à outra da freguesia a pé, de forma cómoda, segura e contínua Aliás, esse tipo de infraestrutura já vem sendo construída e temos atualmente uma área de passeios significativa disponível, que vamos procurar completar.
Quanto à regularização das estradas e caminhos na freguesia, outra área muito necessitada, penso que nem vale a pena referir como objetivo, pois é uma necessidade tão premente que tem que ser solucionada a breve trecho.
Como se pode ver, há muito para se fazer na nossa freguesia. Estamos cá para isso mesmo, para contribuir para o progresso, bem-estar e desenvolvimento desta que é a nossa terra.
Festa - O presidente Luís Pedro acha que a Silveira é uma freguesia bonita?
L. P. S. - Acho que sim. Temos uma costa fantástica, desde a Praia Azul até Santa Cruz, temos uma área rural muito agradável, temos povoações atrativas e acolhedoras, temos o pinhal dos Casalinhos, talvez nos falte só um grande espaço verde para complementar tudo isto, mas estamos atentos e logo que possível acredito que até isso vai ser possível conseguir.
Para além de ser a minha terra, claro, a freguesia da Silveira é um local muito bonito e agradável para se viver e para se visitar.