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Com os Trovante ou a Solo, uma referência no panorama musical nacional!  - Luis Represas

Com os Trovante ou a Solo, uma referência no panorama musical nacional! - Luis Represas

Luís Represas, um dos mais icónicos artistas do panorama musical português, está a comemorar 43 anos de carreira. Lançou um novo trabalho no final do ano passado - Boa Hora - e prepara-se para encher o Coliseu de Lisboa de fãs ávidos de o escutar, no próximo dia 30 de abril, num espetáculo “Luís Represas e convidados” onde vão estar muitos artistas, e amigos, que participaram no disco.
Fomos até Lisboa, à Madragoa, onde conversámos com o artista, no Xafarix, um espaço de referência que Luís tem na capital.

Revista Festa - 43 anos de carreira, já é uma marca muito especial. Como começou tudo?
Luís Represas - Também não são tantos anos assim. Há que tenha bastantes mais...
Tudo começou de uma forma muito comum. Era um miúdo de 13 anos que gostava de cantar e vê os seus colegas a tocar, vê artistas a atuar na televisão e, entretanto, tem dois professores fantásticos: um na instrução primária que teve uma abordagem muito criativa com as crianças no ensino da música, um outro mais tarde, no Liceu Pedro Nunes - o prof Nuno Machado Oliveira - que quase transformou o liceu numa escola de música, de tal forma que as aulas de Canto Coral e os ensaios do Orfeão eram os períodos lectivos mais interessantes.

Festa - O seu sonho começou desde logo a passar por ser músico?
Luís Represas - Pode parecer estranho mas o meu sonho, nessa altura, era ser médico.
Só que a música sempre esteve muito próxima de nós, em casa, com o meu pai a fazer toda a sua carreira na então Emissora Nacional, o meu irmão mais velho a estudar música e seguir o Conservatório, ao mesmo tempo que tirava medicina. Eu e o meu irmão João Nuno começámos também, talvez por essas influências, a tocar.
Primeiro eu, que com 500 escudos que me deixaram “no sapatinho”, num Natal, acabei por comprar uma guitarra e um livro de acordes por onde comecei a estudar.
Depois com naturalidade ia-me juntado com o meu irmão a outros colegas de liceu que também gostavam de música, como o Manuel Faria, e formámos diversos agrupamentos, ou bandas, mas mais para tocar para nós, as músicas que gostavamos de ouvir, na altura. Por diversão.

Festa - A música mais “a sério”, quando começou?
Luís Represas - Por altura do 25 de abril (74) em que para nós, jovens de então, surgem outros focos de interesse, nomeadamente a política. Começamos a levar a música mais a sério até que em 76 nos juntamos nos “Trovante” (eu, o meu irmão João Nuno, João Gil, Manuel Faria e Artur Costa. Mais tarde também Fernando Júdice, José Martins e José Salgueiro) e começamos a ter aceitação.

Festa - Os “Trovante” começam com música de intervenção?
Luís Represas - Completamente. Quem recordar o nosso primeiro trabalho: “Chão Nosso”, com poemas do Francisco Viana, vai reviver música fortemente de intervenção, à boa maneira dessa época. Depois, no segundo dico “Em Nome da Vida” suaviza-se um pouco, em termos musicais, mas continua, ainda assim, a ser um disco interventivo.

Festa - As músicas do Luís Represas acompanham, elas próprias, o que se sente e se passa na época em que são produzidas. É verdade?
Luís Represas - Sim, no fim de contas a minha história, seja com Trovante ou sem Trovante, é uma história que vai acompanhando também a evolução do país, a maneira como o país ouvia música, como o país e as pessoas iriam, em cada fase, receber e entender essa própria música.

Festa - Os Trovante foram uma fase importante para si. É uma associação frequente?
Luís Represas - É verdade, mas já estou sozinho quase ao dobro dos 16 anos em que o grupo existiu.
Agora, também nem eu próprio faço questão de me desligar de uma forma abrupta, que não seja a forma lógica de as coisas acontecerem, naturalmente. Aliás isso tem a ver também com a forma como eu próprio olho para os Trovante: como uma escola, como uma experiência de vida e de música, o início de tudo, uma época essencial da minha vida, que nos fez muito felizes e que nos faz ainda, razão pela qual de vez em quando ainda nos juntamos para fazer uns espetáculos. Foi uma fase da minha, e das nossas vidas, que fez parte do nosso próprio crescimento como homens e como cidadãos.
Agora, não quer isso dizer que fiquemos reféns disso mesmo. O grupo acabou porque tinha que acabar, não fazia sentido continuar, com a saída de alguns dos elementos por razões naturais. O que fez sentido foi eu continuar, trazendo essa escola, essa linha, seguindo o meu destino e trabalhando com os parceiros com quem quis trabalhar, de que estes últimos vinte e poucos anos são um reflexo. E continuará a ser assim.

Festa - Luís Represas a solo já tem mais trabalhos gravados que enquanto Trovante. Já são muitos...
Luís Represas - Sim, já nem sei dizer assim de repente quantos, penso que catorze, cada um tem o seu papel, a sua importância e a sua história, cada um reflete o que o artista ou o músico é em termos criativos e interpretativos, muito em especial na altura em que os produziu. Quer sejam trabalhos mais “datados” ou mais intemporais, refletem sempre, de alguma forma, o que quero transmitir e partilhar nessa altura.

Festa - Há algum trabalho mais marcante, ou mais importante para si?
Luís Represas - Se escolhesse um estaria a contradizer tudo o que vou dizendo. As pessoas poderão fazê-lo, nunca eu. É uma questão de gosto, e como diz o meu amigo Carlos do Carmo “gostos não se discutem, lamentam-se”... mas, todos eles representam fases da vida, e por isso mesmo cada um deles traz uma memória, cada um deles tem a sua importância.
Por exemplo, o primeiro disco que gravei a solo, marcou o início de uma nova caminhada, foi gravado numa altura muito especial, com parceiros também muito especiais, em Cuba.

Festa - É esse trabalho que grava com o Pablo Milanés?
Luís Represas - Com o Pablo, que é uma pessoa que, para além de sermos amigos, teve uma influência enorme na minha vida, quer musicalmente quer mesmo como ser humano, mas também com Miguel Nuñes e com o Nani Teixeira, em Havana, em português e castelhano. O álbum “Represas” foi o início de uma nova etapa na minha vida musical.

“Boa Hora” é o trabalho mais recente...

este é “o disco do Luís Represas 2018. O que espelha o que estou a fazer neste momento...”


Festa - No final do ano passado lança o seu mais recente trabalho?
Luís Represas - Sim, o “Boa Hora” é o meu trabalho mais recente. O que não quer dizer que seja o que se ouve mais. Muitas vezes tenho assistido a isso mesmo. Lançamos um novo trabalho e começam, de novo, a ouvir-se mais as músicas antigas. Mas, o que é mais importante é que, hoje em dia, os discos assumem cada vez mais o papel de cartão de visita. Ou seja, ao contrário de antigamente, em que lançávamos um disco para tentar vender muito, para tentar realizar um valor que os suportasse, hoje lança-se um novo trabalho mais para mostrar o que o artista está a fazer, o que tem para dar e oferecer, e a partir daí monta-se um espetáculo com músicas novas, com novas ofertas.
A importância destas duas coisas alterou-se, pela forma como o próprio mercado encarou as novas tecnologias e tendências de consumo. Hoje em dia lança-se um trabalho muito mais a pensar no próprio espetáculo que no número de cópias vendidas.

Festa - A aceitação que está a sentir por este novo trabalho, é boa. As pessoas “cantarolam” já os temas?
Luís Represas - Sinceramente, estou muito satisfeito pelas opiniões que as pessoas me vão transmitindo, pela críticas positivas que vou recebendo. Se as pessoas “cantarolam” as músicas ou não, ainda não sei, pois só depois de começar a fase dos espetáculos é que posso saber se isso acontece. No entanto, gosto muito que as pessoas cantem as minhas músicas, o que estou a cantar,  mas não vejo aí um fenómeno de maior ou menor aceitação pelo trabalho. As canções podem ser compostas de forma “mais imediata”, em que as pessoas as decoram num ápice, ou não tão imediatistas. O facto de as pessoas não as cantarem desde logo não quer obrigatoriamente dizer que as rejeitem. Aí também está o encanto das canções. As pessoas reagirem porque a música é mais “orelhuda” ou ficar em silêncio e a disfrutar, porque a música não o é tanto mas agrada-lhes de outra forma.

Festa - Se pedisse ao Luis Represas para caraterizar este trabalho, o que diria?
Luís Represas - Não é possível dar uma resposta tão simples e condensada quanto isso.
Este é o trabalho do Luís Represas  2018.
Ou seja, para estar a descrever este disco, tinha que ir ver como é que tudo começa, quem participa no disco, como é que participa, e posso ir por aí...
Este é um disco que começa de uma conversa longa com o Jorge Cruz (Diabo na Cruz) que em parceria comigo escreveu a canção “Boa Hora” e dessa conversa, e desse tema, há o desbloquear de um período de “folha em branco” que já se estava a tornar demasiado. Mas que acontece com qualquer criador ou artista e tem que ser encarado assim mesmo. Dessa conversa, e desse tema, dá-se como que um desbloquear do lado criativo que fez com que começassem a surgir todas as canções que fazem parte deste disco. Canções essas que foram surgindo naturalmente, não para ser cantadas a solo, em dueto ou trio - como o Cinema Estrada, uma versão “cinematográfica” da 125 Azul, pelo menos é como a vejo, em que fui “buscar” os dois atores para interagir comigo no “guião”: o Paulo Gonzo e o Jorge Palma - mas à medida que eram criadas os próprios parceiros para as cantar iam surgindo também, como é o caso do Carlos do Carmo, da Mia Rose, Ivan Lins, etc. No caso do Stewart Sukuma, canta comigo uma canção que já tinha saído prematuramente antes do disco estar feito - Se Achas Que Sim - que lhe mandei, para Moçambique, e onde ele teve uma intervenção tão especial quanto é possível ser especial quando se canta parte da canção numa das línguas nacionais moçambicanas (Changana) e se consegue uma sintonia perfeita.
O disco foi produzido pelo Fred Ferreira, mas com parceria do Manuel Faria e do Francisco Faria. Tudo isto também torna este trabalho muito partilhado, com muitos criadores, muitos tutores, mas penso que é um disco muito equilibrado, pelo menos do meu ponto de vista.

Festa - Quantos temas tem o disco?
Luís Represas - São catorze temas, no total.

 

... há um espetáculo que para mim é fundamental e marca o início da turné:

o Coliseu de Lisboa no dia 30 de Abril.

Penso que vai ser “o espetáculo”!

Festa - Já há espetáculos marcados?
Luís Represas - Sim, claro que há, mas muitos mais vão surgir certamente. Hoje em dia as marcações são feitas muito mais “em cima da hora”. Pela aceitação que estou a sentir é natural que muitos mais vão surgir.
Mas há um espetáculo que para mim é fundamental e marca o início da turné: o Coliseu de Lisboa, no dia 30 de Abril.
Obviamente não vou cantar as músicas todas, vou cantar aquelas em que aparecem os convidados, que quero muito que estejam presentes, e onde vão entrar também outras canções que sirvam o público e também quem está em cima de palco. Penso que vai ser “o espetáculo”!

Festa - Ainda canta com prazer?
Luís Represas - Como é evidente. Prazer e imensa alegria. Cantar é dos maiores prazeres que tenho na vida!

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