De facto, é comum considerar que as gorduras saturadas são a principal causa de obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes, mas, na realidade, não há nenhum estudo que o comprove.
Esta ideia de que as gorduras saturadas são o principal inimigo da nossa saúde cardíaca surgiu de um estudo realizado nos anos 50 do século XX sobre a relação entre o consumo de gorduras saturadas e a incidência de doenças cardiovasculares na população de dezenas de países.
Todos acreditaram nas conclusões do autor desse estudo, Ancel Keys, e ninguém reparou que ele eliminara da sua estatística países como a Noruega e a Holanda, que, apesar de apresentarem consumos elevados de gorduras saturadas, tinham baixíssima incidência de problemas cardiovasculares. Por outro lado, eliminou também do estudo países como o Chile, que apesar de consumirem poucas gorduras saturadas tinham uma elevada incidência deste tipo de doenças. As conclusões, feitas à custa da manipulação dos resultados, ditaram as orientações nutricionais sobre as gorduras nas últimas décadas. Em particular, fizeram-nos temer as gorduras saturadas presentes nas carnes, lacticínios e ovos.
São numerosos os estudos que mostram que os carboidratos prejudicam mais a saúde do que as gorduras saturadas aumentando os níveis de açúcar e colesterol sanguíneo, e promovendo a diabetes tipo 2, as doenças cardiovasculares e o cancro. Tudo leva a crer que uma dieta bem formulada com baixo teor de carboidratos melhora a glicémia, o colesterol e os triglicerídeos do sangue e reduz os processos inflamatórios, evitando o recurso a medicação.
A Suécia foi o primeiro país ocidental a emitir orientações que rejeitam o dogma da dieta baixa em gorduras em favor da redução dos carboidratos e aumento das gorduras na alimentação. Essa mudança das orientações nutricionais seguiu-se à publicação de um estudo realizado pelo Conselho Sueco Independente de Avaliação das Tecnologias da Saúde, depois de rever 16.000 trabalhos científicos publicados até Maio de 2013. Daí resultou a proposta de uma nova pirâmide alimentar, recomendada desde 2013, onde os fornecedores de carboidratos como os cereais, tubérculos e leguminosas estão no topo e os legumes, com valores quase residuais deste macro-nutriente, são a base da alimentação.
Engordamos porque ingerimos demasiados carbo-idratos. Em vez de olharmos para os teores de gorduras dos alimentos, deveríamos antes olhar para o teor de açúcar e de outros carboidratos.
* "Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa" - Associação Portuguesa de Imprensa