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Rui Terras fala-nos de Santa Cruz

Rui Terras fala-nos de Santa Cruz

Santa Cruz, como refere a cantora Susana Félix, é “Um Lugar Encantado”.
Nesta edição fomos conversar com um Engenheiro Topógrafo, que traba-lhou vários anos nos estrangeiro, nos mais diversos países, mas sendo torriense rapidamete se apaixonou por Santa Cruz.
Foi nesta zona balnear, do concelho de Torres Vedras, que desde muito novo passou, porventura, os melhores anos da sua juventude e foi também em Santa Cruz que decidiu estabelecer-se como empresário do ramo hoteleiro, especialmente na restauração.
Começou pelo “Postigo” a que chamou de “Boca Santa”, arriscou no “Frangote” a que chamou de “Bate Boca”, que abriu e fechou depois da pandemia, altura em que também abriu o “Max Garden”, que transformou num espaço muito especial.
Pelo meio, com alguns amigos, criaram o Movimento Santa Cruz Viva, que procura organizar alguns eventos para animar e trazer pessoas à povoação, em especial na época baixa.

Festa - Rui, como é que um Engenheiro Topógrafo se dedica a esta faceta da restauração, que parece não ter nada a ver. Ainda há topografia na vida do Rui Terras?
Rui Terras - Claro que sim, muita e cada vez mais, mas só de inverno, porque de verão tenho que estar aqui a cem por cento, dedicado aos negócios da praia. A topografia é o meu “anti-stress” e, aliás, ainda na semana passada estive a fazer um trabalho aqui mesmo, em Torres Vedras. Tenho uns amigos arquitetos, e não só, que confiam nos meus trabalhos e recorrem regularmente aos mesmos, mesmo sabendo as minhas limitações no verão.

Festa - Como se passa de uma área para a outra?
Rui Terras - Muito simples, deveu-se à família e amigos.
Estava a trabalhar no estrangeiro, em grandes obras e grandes projetos. Em determinada altura queriam que fosse para o Qatar, isto depois de já ter estado em Cabo Verde, Senegal, Guiné Equatorial, muito na área das estradas, e cansei-me de vir só quatro vezes a Portugal, uma semana de cada vez. Passados três anos tudo perde a graça inicial e sentimo-nos cansados de estar longe de casa.
Um pouco devido a essas influências fiquei com o Boca Roxa, em Torres Vedras, depois o Casa da Música, no Túnel, até que, meio por acaso peguei num espaço que sempre frequentei em mais novo, o Postigo, em Santa Cruz, que continuo a ter, como Boca Santa.

Festa - Esse espaço, para além da casa, bastante agradável, tem uma paisagem fantástica…
Rui Terras - Sim, tem uma vista privilegiada. Estamos mesmo cá em cima da arriba com o mar como horizonte, o Penedo do Guincho ou até as Berlengas como pano de fundo para se desfrutar.


Festa - Mas pelo meio já ‘pegaste’ em outros espaços aqui, em Santa Cruz?
Rui Terras - Na altura, o Frangote, que batizei como Bate Boca, ao lado do hotel, que estava a passar por algumas dificuldades pois a noite em Santa Cruz mudou muito e já não havia lugar para aquela coisa dos ‘shots’ ao início da noite, com os jovens em gritarias na rua e a criar ao espaço problemas com os hóspedes do hotel, vendo a sua hora de fecho passar para a meia noite. Fiquei com esse espaço, fiz uma reestruturação e transformei-o numa petisqueira. Mas o espaço é muito pequeno, pelo que resolvi abrir um espaço maior, ainda antes da pandemia, aqui por cima da Praia do Max - o Max Garden, uma cafetaria e snack-bar, abandonando o Frangote (Bate Boca) entretanto, pois surge a pandemia e não havia o mínimo de possibilidade de o manter rentável. Aliás, foi também por essa altura e devido às contingências de separação entre as mesas e as pessoas, que fiquei com a loja aqui do lado, onde nos encontramos, que posteriormente transformei em restaurante.

Festa - É bom viver em Santa Cruz?
Rui Terras - Para mim, e até pelo que disse no início, a qualidade de vida é muito importante e, neste momento, quem vive em Santa Cruz é quem tem seguramente melhor qualidade de vida no concelho de Torres Vedras. Tem é que ter vida para isso, porque também há pessoas que saem de manhã e chegam à noite, só aqui vem dormir e acabam por não usufruir nada com o que Santa Cruz tem para oferecer. Agora quem cá trabalha, quem tem tempo para desfrutar, tem imensa qualidade de vida, porque Santa Cruz tem tudo o que necessitam e é maravilhosa.

Festa - Essa paixão por Santa Cruz acaba por levar o Rui Terras a ‘meter-se’ nas coisas da comunidade, recordo-me, por exemplo de uma associação que passa o tempo a promover e fazer coisas pela zona balnear, é assim?
Rui Terras - É verdade, criámos um movimento, o Santa Cruz Viva, que começámos com empresários de cinco áreas diferentes, mas acabou por evoluir para a população e ainda bem, porque aqui, em Santa Cruz, é muito complicado os empresários estarem todos alinhados no mesmo sentido, em especial organizando coisas que possam ajudar a combater a sazonalidade, pois grande parte dos lojistas, em especial na época baixa, são eles próprios que passam dez ou doze horas nos seus estabelecimentos e sentem muita dificuldade em dispensar tempo para outras atividades, mesmo que os favoreçam.

Festa - A que se dedica o Movimento Santa Cruz Viva?
Rui Terras - Dentro do que é possível, procuramos fazer acontecer algo em Santa Cruz fora da época balnear e nesse aspeto estamos com alguma vitalidade, pelo menos em relação aquilo a que nos propusemos de início.
Temos consciência de que a Câmara Municipal e as Juntas investem muito durante a época balnear, para dar algo às pessoas que estão por cá durante essa altura, seja música, teatro, desporto e outros eventos que são bastante importantes, só que, se queremos ter mais gente durante todo o ano as coisas não podem acontecer só no verão, têm que ser mais espaçadas. Por isso é que nos metemos a organizar eventos ‘fora de época’, como o Arraial da Sardinha de São João, em junho, em parceria com a Sealand, o Santa Clássicos, com uma grande ajuda do Helder, na Páscoa, que resultou muito bem e conseguiu encher os largos centrais com automóveis clássicos lindíssimos e muitas pessoas para os admirar, depois, já vamos para o terceiro ano que organizamos a chegada do Pai Natal em avioneta, numa parceria com o Aeródromo e com o Aero-Clube, que ‘chama’ imensas crianças a Santa Cruz, com os pais a traze-las, claro. Para tudo isto temos contado com a ajuda de muita gente, muitas empresas e associações, sem as quais nada disto seria possível, assim como do município e da freguesia que, dentro do possível, tem colaborado imenso também.
No fundo, sabemos que a Junta e a Câmara não podem fazer tudo, por isso é que com este Movimento procuramos juntar empresas, pessoas e vontades para tentar fazer acontecer.

Festa -  Como tem estado Santa Cruz?
Rui Terras - Santa Cruz tem estado linda. Mesmo hoje, véspera aguardada de uma tempestade, o mar tem estado lindo, com ondas espetaculares e uma vista fantástica daqui até às Berlengas, lá ao fundo. Enfim, Santa Cruz é linda todos os dias….                                            


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