Revista Festa - Como todos os artistas deve ter sofrido com esta pandemia que nos assola.
Quando tudo isto começou o que pensou?
Emanuel - Pensei em resolver o problema, porque, como toda a gente sabe, a arte foi a atividade que mais sofreu com esta calamidade.
O que é um facto é que tenho uma pequena empresa, quatro ordenados para pagar, todos eles da minha família e de repente o “sustento” da família fica em zero.
A solução existente era “ou vamos à luta ou ficamo-nos a queixar”, que é o que a maior parte das pessoas faz. Não é essa a minha atitude, o diretor da minha empresa é o meu filho mais velho, o Samuel, que teve a ideia de substituir os concertos que tínhamos marcados por outros, num palco que ele montou numa estrutura móvel e o objetivo era passar os concertos marcados para concertos móveis, com início às 21:00 e a terminar perto da meia noite, percorrendo cidades e as localidades próximas desses locais.
O Samuel transformou o palco móvel num espaço que comportasse o trace, luzes, robótica e tudo o necessário para funcionar na perfeição quase ao nível do chão, junto às pessoas, mas os municípios mostraram-se relutantes, não aceitaram e perante essa recusa tivemos que encontrar outras soluções.
Festa - Constrói esse palco móvel mas vê os concertos anulados. Como fica... que pensa nessa altura?
Emanuel - Não se pode parar de pensar nem deixar de lutar e acabamos por converter aquele palco num estúdio de televisão móvel, completamente original, com espaço para os artistas, camarim, um espaço para a maquinaria e tecnologia, regie para o realizador, espaço para os técnicos de som e de luzes, operador de drone, de forma muito otimizada mas suficiente para cada um deles, pois trata-se de um atrelado de camião.
É nesse entretanto que proponho a ideia ao Daniel Oliveira (SIC) numa noite e no dia seguinte recebo a resposta do Daniel: “grande ideia, Enanuel, vamos embora, vamos avançar”. Semana e meia depois estávamos na “estrada” e de lá para cá somos “líderes de audiência” (no Domingão) há ano e meio consecutivamente. Também não é só o “camião” sejamos justos, porque o João Baião e equipa, uma equipa grande nos estúdios da SIC, são determinantes. Costumo dizer que somos os sete magníficos, mas eu e a Luciana Abreu vamos às aldeias, vilas e cidades deste país, à porta das pessoas, levar música e alegria, vemos as pessoas a dançar na rua, às janelas, a acenar-nos com satisfação, é maravilhoso. Penso que o “camião” fez a diferença, trouxe algo de novo à televisão, deu um contributo muito importante e, em conjunto, conseguimos resultados muito motivadores.
Festa - Estava a contar com tanto sucesso?
Emanuel - O que é um facto é que isto é uma ideia que foi muito mais além daquilo que seria a ideia original. Acabou por resultar melhor do que pensávamos.
Era suposto ser um único programa. Como ganhou audiências passou para três, depois para o Verão inteiro e, agora, já lá vai ano e meio e, aqui só para nós, não sei quando vai acabar. Vai terminar quando o público quiser... mas, pelo menos mais um ano estará por cá.
Festa - Com o Daniel Oliveira percebeu logo que seria um “furo” de resposta imediata, mesmo depois das dificuldades que teve com as Câmaras Municipais?
Emanuel - Não. Não estava a contar com uma resposta tão rápida. Eu e o meu filho estávamos convictos de que tínhamos ali uma grande ideia, agora, enviar um email às onze da noite para o diretor de uma estação, com o qual tenho a sorte de ter empatia e um exelente relacionamento, com um enorme respeito mútuo, mas esperar receber um email dele no dia seguinte pela hora de almoço dizendo “Emanuel vamos a isso...” era coisa que não esperava que acontecesse tão rápido.
Ainda quanto aos municípios, mesmo nesta fase não foi fácil de início, porque os presidentes de Câmara e os executivos não estavam preparados para uma coisa destas... nunca tinham visto. Por vezes é preciso “ver para crer”, como S. Tomé. Hoje é bem mais fácil, porque já entenderam o retorno que os seus concelhos têm, porque não só levamos música à porta das pessoas como promovemos todo o concelho. Não promovemos só a cidade, ou a vila, vamos às aldeias e lugares, mostramos os rios, as pontes, as paisagens, promovemos o turismo, a gastronomia, a história de todos os concelhos onde nos deslocamos e ainda levamos entretenimento.
Festa - Como se sente o Emanuel com esta “nova” proximidade com o público?
Emanuel - Confesso que me sinto muito bem. Mas sou um operário da música, também já não sou um homem que se ilude com muitas coisas, porque já vivi muito. Quem tem o sucesso que eu tive, como todas as pessoas que tiveram a sorte, ou a virtude, de ter este protagonismo, já pouca coisa nos consegue surpreender, mas não deixa de ser muito entusiasmante, porque me aproxima das pessoas. Ver famílias inteiras nas janelas, nas varandas, a dizerem-nos adeus, a cantar connosco, a dançar, é uma coisa deslumbrante. Para um comunicador, para um entretainer, é maravilhoso, mais ainda numa fase de pandemia, em que não se podia sair, não havia entretenimento, não havia festas... a alternativa era eu e a Luciana, este par improvável.
Festa - Há pouco tempo seria mesmo um par improvável...
Emanuel - Seria improvável. Hoje já é muito mais “provável” porque de facto somos duas pessoas distintas mas que se conseguiram interligar e colar na perfeição.
Festa - Este era um projeto do Emanuel e do seu filho Samuel. Como aparece a Luciana no meio de tudo isto?
Emanuel - De forma muito natural. Quando apresentei o projeto à SIC não o fiz para ser eu o apresentador. A única coisa que pedi ao Daniel Oliveira foi que me encontrasse uma apresentadora, de preferência que cantasse, que fosse bonita e uma “mulher do povo”, porque isto é para o povo e eu próprio sou um “homem do povo”.
É aí que ele apresenta a Luciana. Perfeita.
Aliás, tenho que frisar bem que o Daniel é um verdadeiro estratega, um homem inteligentissimo que está na televisão desde muito jovem e que sabe muito de televisão. Tem capacidade para saber o que resulta, para escolher a pessoa certa e essa pessoa foi a Luciana.
Festa - Mas o Emanuel acaba a apresentar o programa em conjunto com a Luciana?
Emanuel -O meu papel original seria unicamente o de servir de “cicerone” aos artistas convidados. Só que no primeiro programa faço a introdução dos artistas à Luciana, que era a apresentadora, mas o Daniel deve ter percebido que o “boneco” com os dois resultava e ao terceiro programa a direção de produção mandou entregar um auricular ao Emanuel porque me “queriam” ao lado da Luciana. Foi assim, de forma natural, que a partir daí fiquei “oficialmente” nomeado como apresentador da SIC, sempre em parceria com a Luciana Abreu, claro.
Festa - E ganha-se um bom apresentador de televisão?
Emanuel - Não sei se bom, mas faço o que posso. Depois, não posso deixar de frisar que a Luciana é uma atriz fantástica, uma cantora maravilhosa como toda a gente sabe e que não tem triunfado tanto como cantora por ser tão boa atriz e acabarmos por nos focar nessas suas qualidades, dança como ninguém e o nosso comportamento em palco é como se de irmãos se tratasse. Sou como o irmão mais velho para ela e a Luciana como a minha irmã mais nova e não existe a mínima competição entre nós. Ela é uma mulher de energia, um verdadeiro furacão e eu um homem calmo, o que faz com que no palco nos possamos completar na perfeição. Isso contribui em muito para o meu próprio desempenho.
Festa - Aquela empatia que ambos têm, embora sejam pessoas diametralmente diferentes, também ajuda?
Emanuel - Como lhe referi, nós completamo-nos. Ela é um verdadeiro furacão à frente das câmaras e fora delas, uma mulher com uma energia inesgotável, enquanto eu sou mais sereno, mais controlado... nem sequer dançava.
A Luciana contribuiu para descobrir este “novo” Emanuel que por “culpa” dela agora até dança, coisa que nunca tinha feito na vida...
Festa - Sente-se bem neste novo papel?
Emanuel - Sinto, porque na realidade é como ela diz: “Emanuel, você já era assim”. É de alguma forma verdade, porque não posso fazer uma coisa que não sinta e estou a sentir-me bem neste novo papel.
De certa forma foi ela que descobriu este “novo” Emanuel. Eu “acalmei-a” e ela “espevitou-me”... esta diferença de personalidades, com uma intenção comum de servir as pessoas e fazer as pessoas felizes acabou por nos tornar numa dupla “exemplar” em termos de audiências e de agrado do público.
Festa - Com tudo isto já conseguiram colocar outra música nos “top’s”. A música do “Domingão”?
Emanuel - Isso já me compete mais a mim. (sorriso)
Fiz o hino da SIC, depois, quando o “Domingão” fez um ano fiz o hino para o programa a ser cantado, por nós, no “camião”. Felizmente que a interpretação por mim e pela Luciana ajudou e realmente está a ser um sucesso que o público canta em qualquer lugar onde o “camião” se desloque, como se fosse uma canção normal ou um “hino à animação”que todos saibam de cor.
Festa - Como vão ser estes próximos tempos?
Emanuel -O futuro ninguém conhece. Como as pessoas dizem “O futuro a Deus pertence”.
Em todo o caso, existem sempre indícios, há coisas que podemos minimamente prever, se trabalharmos em prol disso. O que se está a trabalhar é para que enquanto o público o quiser “isto” continue e as perspectivas apontam para, pelo menos mais um ano.
Tudo isto nasce por causa da pandemia, mas é um produto televisivo que vai muito para além da “era pandémica”. Porque mesmo não havendo pandemia, o ir-se mostrar e divulgar as quintas, aldeias, vilas e cidades, por vezes em locais recônditos onde pouca gente ia, vai ser sempre importante em televisão.
Aliás, na minha opinião, o “camião” vai ser ainda melhor depois da pandemia, pela simples razão das pessoas já se poderem juntar, muito em especial no local onde esteja previsto terminar. Quando passar a pandemia e as pessoas perderem o medo de se juntar estarão milhares de pessoas à nossa espera. Foi o que aconteceu com o abrandamento da medidas pandémicas, com muita gente a aglomerar-se nos finais... e nem sempre sabiam onde estes iriam ser.
Festa - À espera do Emanuel está também o seu público. Projetos musicas para o futuro?
Emanuel - Uma coisa não impede a outra. Lancei um disco há pouco tempo “Amo Amar-te”, um álbum especialmente romântico, com dois ou três temas mais “entretidos”, e um álbum atualmente dá para dois ou três anos, não é necessário gravar um disco todos os anos. Este está no mercado e depois, daqui a ano e meio / dois anos vou gravar outro... não desisti do “projeto Emanuel”, que é um projeto com sucesso e me dá muito prazer, mas a pandemia fez com que todos os artistas e projetos musicais tivessem que abrandar.
O projeto “Emanuel apresentador” surgiu e não sei se vai desenvolver-se ou não, mas uma coisa nunca vai invalidar a outra. São duas coisas que se complementam e não se chocam. São perfeitamente compatíveis.
Festa - Quer isso dizer que vamos continuar a contar com o Emanuel “romântico” que encanta pelo país e estrangeiro?
Emanuel - Sim, claro. Vou continuar a trabalhar como até aqui. Sou um privilegiado, sempre o disse, e vou continuar a trabalhar para todos os portugueses que me quiserem. Na realidade eu sou um operário da música e a minha função, nesta sociedade, é fazer aquilo que sei. Há quem seja agricultor, médico, apresentador de rádio, dentista, etc, e eu sou um cantor, que tem a sorte de também saber fazer música, ter esse dom. Porque fazer música aprende-se nas escolas, os músicos formados, como eu, aprendem composição, mas fazer músicas que entrem no coração das pessoas, que passem emoções, é um dom com que se nasce, não se aprende... ou se tem ou não se tem. Tendo esse privilégio, claro que o vou continuar a fazer para os portugueses por cá e para todos aqueles que se encontram espalhados por esse mundo fora.
Festa - Neste momento não tem oportunidade de estar com eles?
Emanuel - Neste momento não, é impossível fazê-lo pessoalmente, devido à pandemia. Só é possível chegar aos “nossos” emigrantes através do “Domingão”, porque a SIC chega um pouco a todo o mundo. De qualquer das formas os contactos para concertos no estrangeiro começaram a aparecer, mas enquanto estiver empenhado neste projeto é muito difícil, porque as atuações são normalmente aos sábados e no domingo tenho que estar aqui. Não me dá tempo para responder satisfatoriamente a essas solicitações que vão surgindo. Estão no meu coração, mas não é possível, por agora.
Adoro estar com os nossos compatriotas espalhados por esse mundo fora, tenho recebido as maiores demonstrações de carinho de portugueses um pouco por todo o lado, mas humanamente é-me impossível nestes tempos mais próximos.
Festa - É bom sentir-se reconhecido e acarinhado em todo o lado a que vai?
Emanuel - Claro que é muito agradável, embora não seja um homem que se fascine com o protagonismo, nem gosto muito. O que me fascina é o resultado do meu trabalho, a forma como posso influenciar as pessoas “para o bem”, mas sim, é simpático. Trata-se mais de mim, pessoalmente, pois se pudesse ter esta profissão, servir as pessoas como faço e passar despercebido, preferiria isso. Mas é uma coisa inerente à profissão que abracei, tenho consciência disso, e sempre que recebo simpatia das pessoas procuro retribuir como posso e sei também.
Festa - Estamos na época de Natal. Posso pedir-lhe uma mensagem muito especial para os nossos leitores e seus fãs?
Emanuel - Sigo sempre a filosofia “nascemos para ser felizes”. Não interessa como nascemos, se pobres, se ricos, nascemos todos da mesma forma e quando terminarmos, quando deixamos este mundo, vamos igualmente da mesma maneira, sem qualquer bem ou título. O que fazemos nesse espaço de tempo, entre o início e o fim, é que é determinante. A felicidade está mais nas nossas cabeças que no resto. Por isso, procurem ser felizes e viver uma vida feliz.
Estamos na época de Natal, uma época em que a nossa família é o mais importante. Cuidem das vossas famílias, cuidem de vós e sejam felizes.
Bom Natal!
Emanuel. À conversa com o popular artista que agora também faz furor como apresentador do "Camião do Domingão"
Estávamos no início dos anos ‘90 quando o músico e produtor Emanuel se assume como intérprete e edita o seu primeiro disco “Rapaziada Vamos Dançar”, que o projeta de imediato para os top’s de vendas nacionais. Mas foi a disco seguinte “Pimba, Pimba”, com mais de meio milhão de cópias vendidas em seis meses, que afirmou Emanuel como o expoente máximo de um género musical a que a generalidade da imprensa haveria de designar como “música pimba”.
“Emanuel tem ganho substância com o tempo e, apesar do sucesso, permanece à procura de novos sons para satisfazer os seus fãs. Por qualquer lugar em que passe, Emanuel torna-se sinónimo de dança e alegria”.
Durante a pandemia surge o projeto do “Camião” no programa “Domingão” da SIC que é um verdadeiro sucesso e mantém o programa no topo das audiências nacionais desde o primeiro dia.
Fomos conversar com Emanuel e saber como tem ultrapassado esta pandemia que nos assola.