Felizmente, os avanços científicos na área ocorreram não só a nível do diagnóstico onde já é possível, por exemplo, efetuar testes rápidos em farmácias comunitárias, mas foram sobretudo determinantes no curso da doença no que se refere ao seu tratamento. Os profissionais e os doentes que testemunharam estes avanços assistiram porventura a um dos maiores e mais céleres avanços da Medicina dos últimos tempos. Os tratamentos longos, com recurso a fármacos injetáveis com baixa eficácia e elevados efeitos colaterais que os tornavam inacessíveis a uma parte considerável dos portadores da infeção deu lugar a terapêuticas orais de elevada eficácia e com durações de tratamento que nalguns casos podem ser de apenas 8 semanas.
O ónus da doença e a facilidade do seu tratamento conduziram a uma Acão conjunta entre as Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde para remover a Hepatite C (e as hepatites virais no seu conjunto) das principais causas de morte a nível mundial, onde ocupavam a 7.ª posição. O objetivo de reduzir em 90% o número de novos casos de infeção por hepatite B e C e de reduzir a mortalidade associada em 65% foi definido em 2015 e a sua meta estabelecida em 2030.
Portugal foi pioneiro no que diz respeito à implementação de políticas de gratuitidade e acessibilidade universal dos novos fármacos. Isto colocava o nosso país numa posição muito favorável para o atingimento deste objetivo. A criação do Programa Nacional para as Hepatites Virais, atualmente sob a direção do Prof. Rui Tato Marinho, foi impulsionadora e agregadora das medidas necessárias para este esforço. Contudo, vários fatores, dos quais o principal será sem dúvida a pandemia que vivemos, desaceleraram os esforços e colocaram barreiras que estamos neste momento a tentar contornar. De acordo com as perspetivas de alguns estudos, caso não sejam tomadas medidas adicionais, apenas em 2050 conseguirá Portugal recuperar o tempo perdido e atingir os objetivos propostos. Carecemos de uma melhor definição de estratégias para um rastreio universal e organizado, da descentralização do acompanhamento destes doentes, sobretudo daqueles que vivem em situações de exclusão social, da agregação dos dados clínicos e populacionais e de um maior envolvimento político. Existem, contudo, casos de sucesso no nosso país como o que sucedeu na Madeira, que será provavelmente a única região do país a atingir os objetivos propostos e cujo exemplo poderemos adaptar. Neste dia Mundial para a Consciencialização para a Hepatite C será conhecido o relatório anual do Programa Nacional que será, sem dúvida, uma ferramenta importante na aferição das melhores estratégias a adotar com vista a este objetivo comum.
Independentemente da meta, não percamos o enfoque no caminho e procuremos tornar o diagnóstico e o tratamento acessível a cada pessoa, pois cada caso faz a diferença!