fbpx
quinta-feira, 13 fevereiro 2025 | Login
Epilepsia: Um nome, muitas histórias diferentes e muitas soluções possíveis  50% dos casos podem controlar as crises com medicação eficaz

Epilepsia: Um nome, muitas histórias diferentes e muitas soluções possíveis 50% dos casos podem controlar as crises com medicação eficaz

Ontem, como todas as sextas-feiras, estive em consulta com pessoas com epilepsia. A epilepsia é uma das doenças neurológicas mais comuns, afetando cerca de 8 em cada 1.000 pessoas ao longo da vida. No entanto, apesar de partilharem o mesmo diagnóstico, cada uma dessas pessoas tem uma história única, manifestações diferentes e necessitam de abordagens médicas personalizadas. Algumas das pessoas que vi ontem ilustram bem esta diversidade.

A Maria tem 32 anos e, há uma década, sofreu uma encefalite autoimune. No início, teve crises epiléticas caracterizadas por ausência de resposta, gestos automáticos com as mãos e a boca, seguidos de um período de confusão. No entanto, o tratamento foi eficaz, e há cinco anos que deixou a medicação sem recorrência de crises. Ontem teve alta. Casos como o do Maria mostram que a epilepsia pode, em algumas situações, desaparecer ao longo do tempo. Estima-se que cerca de 50% das pessoas, sobretudo quando a doença surge na infância, possam suspender a medicação para as crises epiléticas e ficar curadas.

O Hélder, de 72 anos, começou a ter epilepsia apenas há dois anos, após um AVC. As suas crises iniciavam-se com tremores no braço esquerdo, mas evoluíram para episódios de perda de consciência e convulsões. O Helder tem uma epilepsia focal, causada por uma lesão cerebral, e as suas manifestações dependem da área do cérebro afetada. No entanto, desde que iniciou a medicação, que vai ter de fazer toda a vida, o Helder ficou sem crises epiléticas. Este controlo da epilepsia é comum: cerca de dois terços das pessoas com epilepsia são controladas com um único medicamento anticrises epiléticas. Esta medicação deve ser a mais adequada para o tipo de epilepsia e escolhida para se adaptar ao perfil de cada doente. Há, atualmente, mais de 20 medicamentos anticrises epiléticas que podem ser utilizados.

Ontem também vi o Manuel, um jovem que teve a primeira convulsão aos 20 anos. Saiu à noite, dormiu em casa de um amigo e, ao acordar, teve o episódio sem qualquer aviso. Não se lembra de nada, apenas de ter acordado no hospital com dores no corpo e a língua mordida. O amigo contou-lhe que o viu a "tremer todo". O eletroencefalograma confirmou o diagnóstico de epilepsia.

O Manuel é um jovem como todos os outros, na altura estava a meio do seu curso superior e não tinha nenhum outro problema neurológico. Ele tem outros familiares próximos com epilepsia, mas nunca pensou que lhe fosse acontecer também a ele.  O Manuel tem uma epilepsia a que chamamos generalizada. Neste tipo de epilepsia todo o cérebro é responsável pela crise. São epilepsias muito frequentemente com causa genética. A adaptação do Manuel a este diagnóstico foi difícil. Teve de fazer várias adaptações na sua vida, inclusivamente deixar de conduzir até estar com a epilepsia controlada há pelo menos 1 ano. Mas no tipo de epilepsia do Manuel, a medicação é muito eficaz e as crises são também muito bem controladas. É preciso cumprir a medicação e ter hábitos de vida saudáveis, nomeadamente evitando a privação de sono e o consumo de álcool ou outras drogas.

Também observei a Helena, que tem crises epiléticas desde os 10 anos, sempre à noite, acordando com movimentos estranhos nos braços e pernas, como se pedalasse no ar. Por vezes, evoluem para convulsões. Já tomou vários medicamentos e, apesar de estar atualmente com três, continua a ter crises semanais. A medicação causa-lhe sonolência, desequilíbrio e problemas de memória. As crises são incapacitantes, podendo durar mais de uma hora; já se queimou ao cozinhar e cai frequentemente, usando capacete para proteção. Devido a dificuldades cognitivas associadas à displasia cortical congénita, que afetam cerca de 80% das pessoas com epilepsia crónica, teve ensino adaptado e dificuldades em encontrar emprego.

Cerca de 30% dos doentes têm epilepsia refratária, que não se controla com medicação. Nestes casos, a orientação para centros especializados é essencial, pois algumas podem ser tratadas cirurgicamente, removendo a área do cérebro responsável pelas crises. Outras podem beneficiar de estimulação cerebral, como a do nervo vago ou a estimulação profunda. Cerca de 50% dos operados ficam sem crises, e a estimulação ajuda a controlá-las em 50-60% dos restantes.

A epilepsia é uma doença neurológica muito incapacitante, se pensarmos que afeta pessoas durante muito anos, nomeadamente em fases ativas da vida. Se tem epilepsia ou suspeita desse diagnóstico, procure ajuda especializada. Há soluções que podem mudar vidas.

Login to post comments

News Letter

Subscreva a nossa  News Letter para receber as noticias que publicamos "na hora"...

Estão Online:

Estamos 713 Visitantes e 23 Membros Online

 

revista generalista

Torres Vedras

região Oeste e norte de Lisboa