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Sons da Terra - Elas são o rosto da Música Popular Portuguesa

Sons da Terra - Elas são o rosto da Música Popular Portuguesa

O grupo de música popular portuguesa “Sons da Terra” foi nosso convidado muito especial para uma conversa sobre aquele que consideramos um dos mais importantes, conhecidos e que melhor representa este género musical no nosso país.

Embora inicialmente, há quase vinte anos, fosse um grupo misto, onde a Vânia fazia parceria com outro cantor masculino, ao longo da sua evolução veio a tornar-se num grupo feminino, constituído por cinco intérpretes trajadas a rigor, à “boa maneira portuguesa”.

Connosco estiveram as três cantoras principais: Vânia, Patrícia e Soraia, cuja entrevista já disponibilizámos nos nossos meios online e da qual deixamos agora os principais extratos.

 

Revista Festa - A Vânia já está com os “Sons da Terra” desde o início do grupo?

Vânia - É verdade, já são quase vinte anos de grupo.

Ao início eramos um grupo misto, com homens e duas mulheres - eu, vocalista (a par com um homem) e uma acordeonista - e só passados alguns anos se passou, por uma questão de estratégia de grupo, a ter só meninas a cantar.

 

Festa - Desde início que estão com o Luís Martins e com a Moinho da Música?

Vânia - Sim, embora tenhamos iniciado as gravações com a Espacial e depois mudado para a País Real, o nosso agente, e responsável fora de palco, sempre foi o Luís Martins, uma pessoa muito exigente, que obriga a que tudo esteja sempre muito “certinho”, mas é um facto que neste tipo de grupos, em especial no mundo da música, é uma mais valia haver alguém que perceba da área, que saiba quais as melhores formas de trabalhar e conheça pessoas importantes no meio. O Luís é essa pessoa, sem qualquer dúvida.

 

Festa - O vosso primeiro trabalho “Portugal no Coração”, foi editado logo que o grupo se formou, há pouco mais de dezanove anos?

Vânia - Não foi logo mas foi pouco depois.

Começámos por cantar nas festas e só algum tempo depois é que se optou por gravar um disco, com originais e temas do cancioneiro popular português.

Hoje em dia o artista só aparece quando tem um disco gravado, na altura não era bem assim. Primeiro ganhava-se traquejo, fazia-se espetáculos, e só depois se gravava.

“Portugal no Coração” foi o tema de maior sucesso desse primeiro trabalho.

 

Festa - Como foi gravar o primeiro disco?

Vânia - No meu caso particular, tive a experiência de gravar com outra pessoa e já trazia uma carreira a solo. Mas é sempre desafiante, pois tinhamos que gravar um de cada vez, dando o nosso melhor, com muitos “corta e volta a gravar” e depois era o produtor que juntava tudo, vozes e instrumentos, culminando no trabalho final apresentado para o público. Ainda agora não é muito diferente, mas os meios disponíveis evoluiram bastante e tudo se torna mais fácil.

Festa - Este primeiro trabalho veio trazer-vos mais visibilidade e espetáculos?

Vânia - Sim, o disco veio mostrar-nos mais. Fizémos muita televisão e isso motivou a abertura de portas para estar presentes em muito mais festas a partir daí.

 

Festa - ...e começam a surgir novos discos?

Vânia - É verdade. Nessa altura, depois de se ter o primeiro disco era natural editar novos trabalhos anualmente, ou de dois em dois anos, para se apresentar temas novos e “refrescar” o espetáculo.

“Viajei por Portugal” foi o disco seguinte, o nosso segundo,  com o tema com o mesmo nome a ser o  maior sucesso. 

“Festas e Romarias”, onde passámos a ser só meninas,  “15 Anos”, e agora “Caminhos de Portugal”, são os nossos outros trabalhos discográficos de onde se retiram diversos sucessos que preenchem o espetáculo dos “Sons da Terra” pelos palcos e festas no nosso país e estrangeiro, muito em especial junto dos nossos queridos emigrantes, com quem nos sentimos como “em casa”.

 

Festa - A vossa caraterização, as vossas roupas, foram adoptadas logo desde início?

Vânia - Sim, desde início que mantemos o mesmo estilo. A única coisa que mudou foram as cores. No início, por exemplo, as saias eram pretas e entretanto houve uma mudança para o vermelho, mas sempre com o intuito de as manter dentro do tradicional. Ou seja, música tradicional, roupa tradicional... é o nosso Portugal.

 

Festa - O que ganharam... foi uma mascote?

Vânia - Pois foi. Cada uma de nós ganhou uma mascote, uma boneca linda, que nos representa.

 

Festa - Cinco mascotes portanto?

Vânia - É verdade, somos três cantoras principais e duas outras colegas fantásticas que connosco colaboram para “encher” os palcos onde atuamos. É uma alegria enorme,  nós e as nossas pandeiretas, oferecemos uma animação de início ao fim do espetáculo.

 

Festa - Quando vos vemos nas televisões normalmente não apresentam um tema forte, mas diversos temas por atuação. É propositado?

Vânia - Os nossos discos têm músicas e letras que achamos muito fortes, pois, quer o Paquito, a Celeste ou outras pessoas que neles colaboram, conseguem harmonias muito agradáveis que ficam no ouvido e são fáceis de decorar.

Ainda assim, quando vamos aos programas de televisão procuramos utilizar os “medley’s” que temos nos CD’s, pois, nessas alturas, como é natural temos pouco “tempo de antena”, com duas ou três entradas em palco, na melhor das hipóteses, então, em vez de cantar três temas, ao utilizar os “medley’s” acabamos por apresentar nove e o público fica a conhecer-nos melhor. A nós e às nossas músicas. 

 

Festa - Os “Sons da Terra” têm imensos espetáculos por cá mas vão também atuar muito ao estrangeiro?

Vânia - Sim, foi com muita satisfação e alegria que visitámos países como os Estados Unidos, Alemanha, Suíça e alguns outros onde existem comunidades portuguesas, tendo voltado sempre que os convites voltavam a surgir também. Por exemplo na Suíça já estivémos em várias cidades, com diversas comunidades portuguesas.

Não desfazendo de quem está no nosso país, onde somos sempre muito bem recebidas, é óptimo estar com os nossos emigrantes pois eles sentem uma saudade enorme de Portugal e quando lhes chega um pouco da nossa cultura, da nossa música, retribuem com um acolhi-mento e uma simpatia indescritível. No fundo somos um pouco do nosso país que vai ter com eles ao país em que vivem e trabalham, mas sempre com Portugal no coração.

 

Festa - A pandemia veio “cortar” um pouco tudo isso?

Vânia - É verdade, as festas deixaram de existir e os espetáculos que tinhamos marcados tiveram que ser cancelados. 

Continuámos a ir à televisão, mas mesmo aí não havia público, o que nos deixava um sentimento de tristeza enorme, pois acabávamos a cantar para as câmaras, para a produção, embora lá estivéssemos porque sabíamos que nas casas, nos lares, havia imensa gente a disfrutar da nossa companhia, da nossa música, e conseguiamos levar até elas um pouco da alegria, animação e companhia de que estavam tão carenciadas, em especial nos confinamentos. Não é a mesma coisa cantar com público à frente ou só para as câmaras.

Depois ainda existia o problema de não podermos estar juntas, de os ensaios serem poucos ou nenhuns. Havia sempre aquele medo de alguém ter um sintoma, poder estar infectado... foi um período muito triste, para nós e para todos, este da pandemia que nos afetou, a nós artistas, de forma muito particular.

 

Festa - Neste momento, embora o número de infeções ainda seja significativo, felizmente os efeitos secundários e as hospitalizações já são residuais. Como estão a encarar os tempos que aí vem?

Vânia - De forma sempre positiva. Já temos alguns espetáculos marcados, estamos a sentir que as pessoas estão ávidas por se poder juntar em reuniões, festas, romarias e nós estamos com muitas saudades desses mesmos espetáculos e das pessoas. Se tudo correr bem vão ser tempos bons... esperamos e desejamos.

Depois, vamos fazer 20 anos de Grupo no próximo ano, contamos poder comemorar lançando um novo trabalho.

 

Festa - Uma das novelas mais em foco atualmente conta com um tema vosso, certo?

Vânia - Claro e ficámos muito contentes, achamos que é uma honra e privilégio enorme, para nós, ter esse tema na novela “Festa é Festa”, porventura a mais vista atualmente. Embora tenhamos um tema com o nome da própria novela, gravado há uns anos, o escolhido foi o “Festa Que é Festa”, que integra o nosso último trabalho “Caminhos de Portugal”, editado antes da pandemia.

 

Festa - Temos connosco as duas outras vocalistas principais dos “Sons da Terra”: Patrícia e Soraia, que vieram completar o quinteto de música popular portuguesa em que a Vânia é fundadora.

A Patrícia, que é de Runa - Torres Vedras, provem de um grupo de baile de referência desta região, é verdade?

Patrícia - Foram nove anos a integrar o Grupo Abel Alves que me fizeram crescer imenso como cantora. Sei que foi uma grande aprendizagem e uma experiência única que me abriu as portas para este mundo da música.

 

Festa - Como foi sair de um projeto de baile para outro mais abrangente como são os “Sons da Terra”?

Patrícia - É completamente diferente. Uma banda tipo “Abel Alves” dá-nos uma estaleca enorme, pois são dias sobre dias consecutivamente em palco que representam um enorme crescimento pessoal. Um projeto como os “Sons da Terra”, para além de ser um grupo de música tradicional portuguesa, música “nossa” e em que me revejo, faz com que tenha uma energia e uma dinâmica incopa-ráveis, para nós e para o público que connosco interage.

 

Festa - Muito em breve, no dia 01 de outubro, sabemos que os “Sons da Terra” vão estar a atuar na sua terra natal, em Runa. Como vai ser?

Patrícia - Vai ser muito bom, claro. Em Runa estou sempre a “jogar em casa” e vai ser um prazer redobrado poder atuar lá com as minhas colegas dos “Sons da Terra”. Vamos ser acolhidas certamente como se todas fossemos “filhas da terra” e vamos corresponder com um espetáculo fantástico.

 

Festa - Ainda têm datas livres para este ano?

Vânia - Sim, sim. Embora seja o Luís Martins (Moinho da Música) que trata disso e tenhamos muitos espetáculos marcados, pelo que sei ainda temos datas disponíveis.

 

Festa - A Soraia, da mesma forma que a Patrícia também é proveniente de um projeto de música de baile, os Nautilus, da região de Peniche?

Soraia - Entrar nos “Nautilus”, na altura, também foi muito bom, porque foi um desafio como o de integrar agora os “Sons da Terra”. Eram um cojunto de baile com muito anos de estrada, formado por homens, e fui a primeira mulher a entrar no grupo onde tive sete anos muito bons, só que, com a pandemia, deixou de haver bailes e decidiram acabar com o conjunto, razão porque numa conversa com o Luís Martins decidimos que viria integrar este projeto de pessoas incríveis e onde me estou a sentir muito bem e muito feliz.

 

Festa - Quais as principais diferenças que sentiu?

Soraia - Muito em especial o estilo e género musical.

Gostei muito de trabalhar num conjunto de baile, mas  como comecei muito cedo a cantar fado tive que me adaptar ao “Nautilus”. Aqui já me sinto novamente mais “em casa”. 

Nos “Sons da Terra” é música tradicional, é música nossa, é música que eu sinto. Depois, a música é muito boa e o facto de ser uma carga horária muito menor também ajuda bastante. 

 

Festa - Vânia, para terminar, se lhe pedisse para escolher um tema de entre todos os que já gravaram ao longo destes quase vinte anos, qual escolheria?

Vânia - É muito difícil, porque gosto de quase todos eles, todos me dizem muito. Se tivesse que escolher um... talvez o “Festa é Festa”, uma música mexida, um original nosso que o público sempre dança e a que reage com muito entusiasmo e animação.

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